Sucesso absoluto: com virtuosismo espetacular, a companhia alemã Flying Steps eletriza o público na terceira noite do 7º Música em Trancoso
Cerca de 500 anos atrás surgiu o balé clássico, nos palácios das cortes europeias. No início da década de 1970, nas ruas das periferias de Nova York, a dança hip hop ganhou força como parte de um movimento de cultura urbana, nascido em meio às comunidades de ascendência afro e latina. Em 2010, a companhia alemã Flying Steps produziu o espetáculo Red Bull Flying Bach, que promove o encontro do balé e da música clássica com o breakdance, como é conhecida a dança hip hop.
A estreia brasileira de Red Bull Flying Bach aconteceu no 7º Música em Trancoso, na terceira noite do festival, dia 5 de março. Ao som de uma obra-prima da história da música – O Cravo Bem Temperado, concebida no século 18 por Johann Sebastian Bach – o espetáculo mostra o encontro de um grupo de sete B-Boys (como são chamados os dançarinos de breakdance) com uma bailarina clássica. O jogo de diferenças que esta reunião provoca, ressalta as forças inversas de cada técnica de movimentos. Enquanto o balé clássico desafia a gravidade, se direcionando para cima (ou para os céus, para exaltar qualidades etéreas), o breakdance é governado pelas forças terrenas, direcionando-se para o chão.
Enquanto a notável bailarina clássica realiza suas piruetas almejando o voo em direção das alturas, os dançarinos de breakdance invertem a posição do corpo. Mergulhando em direção ao chão, giram freneticamente, apoiados nas próprias cabeças.
O virtuosismo espetacular do elenco da Flying Steps é de tirar o fôlego. A todo momento, os bailarinos surpreendem com movimentações que tornam possível o que parece impossível. Neste ponto, acabam gerando confluências com o balé clássico, pois nas duas linguagens a dança faz dos intérpretes seres quase sobrenaturais. Esta espantosa capacidade física do grupo se destaca também no filme exibido em certo momento do espetáculo, que mostra os bailarinos em câmera lenta, desenhando o espaço com os próprios corpos.
Econômico nos adereços cênicos, Red Bull Flying Bach acontece em uma arena negra, que evoca os espaços públicos onde B-Boys competem uns com os outros, nas conhecidas batalhas de dança urbana. A música, uma das marcas principais do espetáculo, associa um arranjo eletrônico da composição de Bach a apresentações ao vivo. Nas laterais do palco, Vida Kaljanova (no piano) e Sofya Gandilyan (no cravo) proporcionam belas interpretações de O Cravo Bem Temperado.
A participação da companhia Flying Steps representa uma novidade nas programações do Música em Trancoso, que até então não incluía programas dedicados à dança. Tudo indica, a iniciativa foi acertada. Sucesso absoluto, Red Bull Flying Bach eletrizou o público, que ovacionou o espetáculo.
O terceiro dia do 7º Música em Trancoso também foi agitado nas programações paralelas. Além das aulas de iniciação musical ministradas por músicos da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro em duas escolas públicas – Higina Cristo, em Trancoso, e Brigadeiro Eduardo Gomes, em Porto Seguro – uma intensa agenda de masterclasses está atraindo dezenas de estudantes brasileiros de música.
Nesta edição do festival, seis artistas convidados estão ministrando masterclasses diárias: os alemães Oscar Bohórquez (violino), Leonard Elschenbroich (violoncelo) e Matthias Ambrosius (clarinete), os franceses Felix Dervaux (trompa) e Benoît Fromanger (flauta) e o russo Timur Martynov (trompete). São virtuoses em suas especialidades, que estão proporcionando intercâmbios importantes para os estudantes brasileiros.
A qualquer hora do dia, a música está presente em Trancoso – no teatro, nas escolas e salas de aula.