Série #NossosTalentos | Noite das EstrelasGabriel Henrique Pereira, tenor
Dias 8 e 9 de outubro, na Sala São Paulo, o Mozarteum encerra sua programação de 2018 com os concertos Noite das Estrelas. Em cena, acompanhados da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, sob regência de seu maestro titular, Carlos Moreno, estarão 12 jovens solistas brasileiros com carreiras promissoras, que em algum momento foram impulsionadas pelo Mozarteum. Vale a pena conhecê-los: são novos talentos que despontam inclusive na cena internacional, comprovando a potência musical brasileira.
Gabriel Henrique Pereira, tenor
Nascido em Belo Horizonte (MG), o tenor Gabriel Henrique Pereira foi para a Alemanha pela primeira vez em 2016, quando ganhou bolsa de estudos do Mozarteum, após participar da 1ª academia Canto em Trancoso. Foi esta oportunidade que lhe abriu portas para investir em sua carreira artística e seguir em busca de seus sonhos.
Hoje ele estuda na cidade alemã de Leipzig, em uma das principais universidades de música da Europa e se apresenta em concertos e espetáculos de ópera. Desfrutando de cada momento de sua promissora carreira, Gabriel escolheu a ária Ah leve-toi, Soleil!, da ópera Romeu e Julieta, de Gounod, para apresentar nos concertos Noite das Estrelas. Segundo ele, uma música que fala de amor é a melhor forma de expressar gratidão e esperança.
Momento atual:
“Estudo bacharelado em canto lírico na Escola Superior de Música e Arte Dramática Felix Mendelssohn Bartholdy em Leipzig, Alemanha. Não sei muito bem quando me surgiu o desejo de estudar fora do Brasil. Acredito ter sido motivado pelos vários artistas de fora que passei a admirar desde o início de meus estudos, quando buscava na internet referências dos estilos que eu estudava na história da música. Não sabia muito bem para onde ir, mas sabia que queria muito ter essa experiência e a vida foi se encarregando do resto, me mostrando aos poucos qual caminho seguir. Eu já tinha ido algumas vezes à Alemanha para participar de diferentes projetos – o primeiro deles com uma bolsa de estudos do Mozarteum Brasileiro para cantar com a Chorakademie Lübeck em 2016, quando fui um dos escolhidos da 1ª academia Canto em Trancoso, em 2015. Durante estes projetos eu aproveitei para procurar professores, comecei a pesquisar sobre escolas e vi a maravilhosa estrutura que oferecem. Comecei a sonhar alto e me preparar para tentar as provas de admissão em diferentes universidades. No ano passado consegui ir, com mais coragem que recursos, e fui aprovado. Desde então vivo o sonho de ser estudante na cidade que respira Bach e expira Mendelssohn, considerada a capital da música na Alemanha.”
Aqui agora:
“Vivo um momento muito bom, aprendo muito todos os dias. O contato diário com uma língua tão complexa e com uma cultura tão rica já é uma experiência ímpar. Mas, ser estudante e poder usufruir de uma rede de ensino tão completa me faz ter consciência da preciosidade do ‘agora’. Tenho tentado estar totalmente presente neste ‘agora’, para poder absorver todo o conhecimento possível e estar cada vez mais aberto ao novo e à mudança. Meu foco, neste momento, está inteiramente voltado para os meus estudos. Me envolvo em projetos da universidade e fora dela, como óperas, concertos variados como solista ou até mesmo em coros e ensembles, que me dão a oportunidade de aplicar o que aprendo na academia e também me ajudam financeiramente a sustentar meu sonho.”
“Pra tudo se dá jeito”:
“Nasci em Belo Horizonte (MG), no dia 29 de setembro de 1993. Sou de uma família humilde e muito batalhadora. Tenho a sorte de ter pais que, mesmo com a falta de recursos financeiros, sempre investiram em uma educação de qualidade. São pessoas fantásticas, que permitem a mim e aos meus irmãos (tenho uma irmã mais velha, enfermeira, e um irmão mais novo, estudante de fisioterapia) sonharmos alto, sem medo de cair, pois “pra tudo se dá jeito”. São pessoas abertas, que aceitam minhas diferenças, me apoiam incondicionalmente em qualquer situação. Puxam a orelha quando necessário, com muito amor, e prezam por uma relação harmoniosa. Nós, além de filhos, pais e irmãos, somos amigos. Tenho muito orgulho da relação que temos. Na música, desde o início me dão todo o suporte que preciso e o melhor: muito incentivo. Na minha família, sou o único músico, mas todos consomem muita música. Tenho um avô que adora tocar violão como hobby e uma avó de 81 anos que canta na igreja desde muito jovem.”
Como tudo começou:
“Aos cinco anos de idade tive minha primeira experiência com o canto, quando entrei para o coral da igreja que eu frequentava. Foi uma experiência muito gratificante para mim, meu primeiro solo como sopranino – o menino cantor com voz equivalente à de soprano. Durante dias, senti uma alegria muito grande e ficava repetindo sobre o que cantei para meus familiares. O coral da igreja passou a ensinar teoria musical. Assim, aprendi a ler partitura e passei a me envolver de maneira muito intensa nas atividades musicais da igreja. Porém, não me passava pela cabeça que aquilo poderia ser uma profissão. Na sétima série do ensino fundamental tive uma professora de inglês que se apresentou para a turma como cantora e falou um pouco sobre seu trabalho musical. Ela convidou toda a classe para um concerto no qual ela cantaria com a Cameratta Lusittana, grupo de música antiga que ela fazia parte. Fui a este concerto e fiquei boquiaberto com tudo o que vi e ouvi. Não esperava que essa tal música antiga, com cantores líricos, fosse me tocar tanto. Foi amor à primeira vista. Logo depois deste concerto comecei a fazer aulas particulares de canto com esta professora. Ela me preparou para as provas de admissão do curso de música do CEFAR (Centro de Formação Artística do Palácio das Artes), com duração de quatro anos, no qual fui aprovado e que deu início a esta linda e intensa carreira musical.”
Somando experiências:
“Neste curso do Palácio das Artes me conheci, reconheci minhas verdadeiras afinidades musicais, descobri meus gostos, encontrei meus melhores amigos, cresci muito como pessoa e me tornei um cantor lírico. Passei a integrar o Cameratta Lusittana e a cantar ao lado da minha primeira professora de canto, e também com o Seconda Prattica Ensemble, grupos de música antiga com os quais adquiri experiência de palco e muita informação sobre repertório e estilo. Me formei em 2012, ano em que fui vencedor do Concurso Jovem Músico BDMG. Em 2013 passei a integrar o Ars Nova – Coral da Uiversidade Federal de Minas Gerais e também atuei como músico contratado do Coral Lírico de Minas Gerais. Em 2009 participei do meu primeiro festival de música, a Semana de Música Antiga da UFMG, e participei das edições posteriores também, além de vários outros festivais de música como a Oficina de Música de Curitiba, Festival Internacional de Música de Pelotas, Festival Internacional de Música de Campos do Jordão e Academia Internacional Teatro del Lago em Frutillar, Chile.”
Passagem pelo Chile:
“Depois de todas estas experiências musicais, decidi em 2013 me mudar para o Chile, para estudar bacharelado em música na Pontificia Universidad Católica de Chile, com o professor e tenor Rodrigo del Pozo, que conheci durante a Semana de Música Antiga da UFMG em Belo Horizonte. No Chile tive oportunidades incríveis de trabalhar com o renomado ensemble Concerto Vocale. Trabalhei também no Teatro Municipal de Santiago, onde conheci grandes cantores e dividi o palco com alguns deles, e passei a integrar o Opera Studio Ramon Vinay, dirigido pela experiente e mundialmente conhecida mezzo-soprano Graciela Araya. Participei da I Academia Internacional Teatro del Lago Frutillar, onde tive o privilégio de interpretar a Paixão Segundo São João de Bach, dirigido pelo especialista na obra do compositor, maestro Helmuth Rilling, e preparado pela competente regente Kathy Roomey. Esta foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida, quando conheci uma lenda viva, uma enciclopédia humana, um sábio que com poucas e simples palavras diz grandiosidades. Foi meu primeiro contato com um alemão, que me despertou os primeiros sinais de interesse para conhecer seu país e começar a pesquisar sobre o estudo de música por lá. Meu professor, del Pozo, teve uma conversa franca comigo e me disse para não ficar no Chile e ir para a Alemanha, que era um lugar muito interessante para estudar. Eu o ouvi e decidi abandonar meu curso e voltar para o Brasil para coletar recursos, estudar alemão e me informar para me mudar para a Alemanha.”
Canto em Trancoso: a chance de chegar à Alemanha:
“Ao chegar ao Brasil, fui selecionado para participar da academia Canto em Trancoso, que me proporcionou minha primeira ida para a Alemanha. Logo após a academia, fui aprovado para integrar a primeira turma do Opera Studio do Theatro Municipal de São Paulo, e por isto me mudei para a capital paulista e passei a estudar sob orientação do maestro Gabriel Rhein-Schiratto. Esta foi uma vivência muito importante para conhecer melhor o mundo da ópera, passar por um processo de autoconhecimento e de fazer importantes decisões para o meu futuro. Logo após a viagem à Alemanha proporcionada pelo Mozarteum, também passei a integrar a Oficina de Música Antiga da Escola Municipal de Música de São Paulo, onde tive a sorte de ser orientado pelo grande mestre Nicolau de Figueiredo, que me apresentou para outro grande mestre que passou a ser meu professor de canto: Francisco Campos. Estes dois mudaram minha vida, me mostraram minhas possibilidades como cantor e artista, me deram oportunidades profissionais incríveis e muita confiança para prosseguir minha jornada. Minha gratidão e alegria por tê-los conhecido é imensa. Neste mesmo ano, 2016, fiz minha segunda viagem à Alemanha para cantar novamente com o maestro Helmuth Rilling, em missas e cantatas de Bach, nas igrejas em que o compositor trabalhou durante a Weimar Bach Cantata Academy. Mais uma vez a vida me levou para a Alemanha, com mais uma bolsa de estudos, para fazer o que amo: cantar e conhecer ainda mais a cultura, e desta vez viajar por várias partes do país para fazer várias aulas de canto com diferentes professores. Fui também à Holanda para uma semana intensiva de aulas com Margreet Honig. Voltei ao Brasil mais determinado que nunca, trabalhei muito em prol do meu objetivo e recebi mais um convite inesperado, para cantar O Messias de Händel, novamente com a Chorakademie Lübeck, com preparação do maestro Rolf Beck e regência de Helmuth Rilling – dois maestros envolvidos nas duas diferentes bolsas que ganhei para estudar na Alemanha. Esse convite me deu mais clareza sobre o caminho que queria seguir e, em apenas um mês, me mudei para a Alemanha.”
Noite das Estrelas:
“O espetáculo Noite das Estrelas significa, para mim, a coroação de toda a jornada que venho seguindo. É muito gratificante ter uma instituição como o Mozarteum que nos observa, que enxerga nossos esforços e nos apoia. Este concerto é um incentivo, um impulso carinhoso que nos diz: ‘Eu acredito em você. Segue firme!’. O Mozarteum chega como uma mãe, em meio a tantos desafios que enfrentamos. O valor deste abraço do Mozarteum é inestimável. É muito valioso ter alguém que acredita no seu potencial. Isto te impulsiona a querer ir além e é assim que eu me sinto com o convite para estas noites tão especiais: grato pela oportunidade de estar no meu país, próximo aos meus familiares e amigos, para compartilhar com eles tudo o que venho cultivando em terras tão distantes.”
Cantando o amor e a esperança em Noite das Estrelas:
“Na sugestão de repertório para Noite das Estrelas só escolhi músicas que falavam das mais diversas formas de amor, pois não há afeto melhor para expressar a gratidão. Fico muito feliz com a escolha do maestro Carlos Moreno da ária Ah lève-toi, Soleil!, da ópera Romeu e Julieta do compositor Charles Gounod, inspirada na tão importante e belíssima obra de William Shakespeare, que aborda um amor inocente, puro e intenso. A ária, além do amor de Romeu por Julieta, aborda também a esperança de que eles possam viver juntos este amor, pedindo ao sol que se eleve, empalideça as estrelas e brilhe no firmamento sob o azul sem véus. Tal esperança pode ser comparada à que nós, jovens músicos em ascensão, temos com nosso amor à arte, esperando cumprir nosso maior objetivo enquanto artistas: iluminar a vida de quem nos prestigia e, para isto, ter a sorte de uma carreira sólida. Noite das Estrelas será uma celebração à esperança, ao futuro dos solistas que participam dos espetáculos e que representam os tantos outros jovens deste nosso Brasil que, assim como nós, lutam para conquistar seus sonhos.”
O impulso fundamental do Mozarteum:
“Por vezes, o que nos falta para correr em direção aos nossos sonhos é alguém que acredita em nós e nos dá impulso para a corrida. Este foi o papel do Mozarteum na minha carreira: impulsionar meus passos em direção aos sonhos de estudar fora do Brasil. O Mozarteum me proporcionou uma experiência de primeiro contato com a cultura e o trabalho na Alemanha, uma ideia do que poderia ser meu estudo no país, e foi exatamente esta experiência que me fez confirmar minha vontade e ver que seria possível, que tudo que eu precisava era de organização, confiança e coragem.”
Coro em Trancoso fez a diferença:
“Participei da primeira academia Canto em Trancoso em 2015, ano em que eu voltava do Chile justamente para me preparar e coletar recursos para minha mudança para a Alemanha. Eu já havia participado de vários festivais de música pelo Brasil e Chile, mas nenhum deles oferecia bolsas para os alunos ao fim das atividades. Canto em Trancoso foi bem diferente. No primeiro dia de festival tivemos um encontro com a organização e professores e então fomos informados que cinco alunos seriam selecionados para a próxima edição da Chorakademie Lübeck na Alemanha, com base nos rendimentos dos alunos nas aulas e ensaios em coro. Já estávamos muito felizes de estar naquele paraíso que é Trancoso, mais ainda por fazermos em conjunto música de qualidade, dirigidos pelo experiente maestro Rolf Beck e ter aulas de canto com sua esposa, a mezzo-soprano Lucia Duchonovà, mas essa notícia nos deu ainda mais ânimo para dar nosso melhor nas atividades da academia. O repertório escolhido para o concerto em coro foi deslumbrante, a cada ensaio um prazer indescritível, uma alegria imensa de estar ali com colegas tão competentes. As aulas com Lucia Duchonovà eram muito boas, muito dinâmicas. Os temas eram abordados de forma leve e agradável, de maneira bem respeitosa. Ter sido selecionado como bolsista para a Chorakademie Lübeck foi a cereja do bolo, pois ao final de tão intensa experiência eu me sentia muito feliz com cada resultado obtido, com os colegas que conheci e com as amizades firmadas.”
De Trancoso para o mundo:
A Chorakademie Lübeck funciona de maneira parecida à academia Canto em Trancoso. Há um programa para ser feito em coro com o maestro Rolf Beck, oportunidades de solo e professores renomados para dar aulas e masterclasses de canto. Na edição de 2016, os professores eram ninguém menos que Margreet Honig e Marcel Boone. São dois mestres importantíssimos no cenário musical europeu e já formaram estrelas da cena lírica mundial. O programa era belíssimo: O Messias de Handel, La Petit Messe Solennelle de Rossini e o Spanisches Liederspiel de Schumann, Tive o prazer de atuar como solista em todas essas obras, além de cantar em coro. Das experiências de coro que já tive, esta foi a que me senti mais envolvido e emocionado. Foi lindo participar deste projeto e ver como a música estimula a união, a comunhão com colegas de culturas tão distintas, falando um mesmo idioma, a música. Foi comovente. Ao final, não consegui conter as lágrimas de alegria e uma pontinha de tristeza pelo fim desta tão rica experiência. Voltei ao Brasil decidido a me mudar para a Alemanha, pois sabia que a realidade que conheci na Chorakademie Lübeck poderia ser minha realidade diária. Mudei planos, abandonei o que me impedia de seguir meu sonho, comecei a estudar o idioma alemão e a me preparar para as provas de admissão das universidades da Alemanha. Trabalhei muito, cantando em muitos concertos e dando aulas de canto, para atingir minha meta de orçamento para enfim me mudar. Hoje colho os frutos de tantos esforços, pois estudo numa universidade alemã e ainda firmei um excelente relacionamento com o maestro Rolf Beck. Com ele, trabalho constantemente em concertos por toda a Alemanha e já nos apresentamos inclusive na Coreia do Sul, junto à Chorakademie Lübeck.
Uma oportunidade transformadora:
Iniciativas como Canto em Trancoso são muito importantes para jovens como eu, que não têm tantos recursos financeiros, acreditarem em seus sonhos. Eu não teria tido condições de ir para a Alemanha e conhecer de perto esta realidade de ensino e trabalho através de meus próprios recursos. Sou extremamente grato ao Mozarteum por ter me proporcionado esta tão rica experiência que, sem dúvida, mudou minha vida e abriu minha percepção de mundo. Através desta experiência modifiquei minha maneira de lidar com todas as minhas relações pessoais e profissionais, a fim de atingir meus objetivos, alimentados pela soma de cada momento vivido durante esta minha primeira viagem à Alemanha. Iniciativas como esta são importantes para a educação. Logo, para todo o país, que poderá contar com profissionais com mentes mais abertas e visões amplas sobre cada assunto. O trabalho que o Mozarteum realiza no Brasil é de extrema responsabilidade social. Modifica toda uma sociedade e transforma a realidade. A arte é fundamental para o desenvolvimento humano, provoca mudanças nos mais diversos setores, além de ser uma manifestação social e um instrumento de divulgação da tão rica cultura do nosso país.”
Preferências musicais:
Considero-me muito eclético e tenho muito prazer em cantar desde obras medievais, renascentistas ou barrocas, em ensembles vocais ou como solista, em óperas e oratórios barrocos, clássicos, românticos e modernos e ainda música de câmara para voz e piano, voz e violão, voz e alaúde. Mas, dentro desta enorme gama de repertórios que me agrada muitíssimo, posso citar alguns dos meus compositores favoritos, que me chamam a atenção especialmente por serem tão inovadores, terem identidades muito reconhecíveis e por serem verdadeiros gênios da música: Cláudio Monteverdi, Barbara Strozzi, John Dowland, Marc-Antoine Charpentier, Jean-Phillipe Rameau, Johann Sebastian Bach, Georg Friedrich Händel, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, Robert Schumann, Richard Strauss, Claude Debussy, Francis Poulenc, Jules Massenet, Charles Gounod, Sergei Rachmaninoff, Benjamin Britten, Edward Elgar e, claro, nossos brasileiríssimos e geniais Heitor Villa-Lobos, Cláudio Santoro, Carlos Alberto Pinto Fonseca, entre tantos outros.
Música como alicerce da educação:
“Acredito que o maior desafio para o artista lírico no Brasil é a falta de recursos. O Brasil enfrenta um momento muito delicado, em que os investimentos na cultura são muito pequenos e na música erudita ainda menores. Em minha opinião, a base deste problema é a educação, que ainda enfrenta tantos problemas no país, dentre eles o de não oferecer educação musical. Portanto, o conhecimento e o consumo da música de qualidade é pequeno, o que compromete nossas carreiras no futuro. Sou muito grato por ter a oportunidade de estudar fora do país e estar alicerçando minha carreira. Espero, um dia, voltar para o Brasil para dividir os conhecimentos adquiridos e colaborar com a educação do país”.
Cuidados com a voz:
Acredito que um dos principais cuidados com a voz é buscar uma técnica vocal saudável – daí a importância de um bom professor para auxiliar nesta busca. Sou muito alérgico a tudo, portanto preciso de muita hidratação direta e indireta – ou seja, tomar muita água, fazer inalação com soro fisiológico e vaporização. Atividade física é igualmente importante para manter o tônus muscular, fundamental para o apoio e sustentação, para que haja um balanceamento de forças na hora da emissão vocal. Eu procuro estudar todos os dias, fazendo exercícios de técnica vocal e também técnica aplicada ao repertório. Claro que é muito importante ter períodos de descanso e repouso vocal e eu os valorizo muitíssimo.
O romantismo do tenor lírico:
“Minha classificação vocal é de tenor lírico, que no repertório operístico é comumente utilizada para papéis românticos, apaixonados, enamorados, como o próprio Romeu em Romeu e Julieta de Gounod, ou o papel título da ópera Fausto, do mesmo compositor. O tenor lírico é o mais utilizado para os papéis de Mozart e também muito encontrado na literatura do Bel Canto, por compositores como Gaetano Donizetti e Giuseppe Verdi, e ainda em algumas óperas do Verismo, assim como em obras de Giacomo Puccini. Em termos gerais, o tenor lírico tem uma voz de volume médio e brilhante, possui facilidade em cantar grandes frases, cantar em legato – que à grossa definição é a habilidade de cantar notas sucessivas de maneira fluida e contínua. Possui uma extensão vocal médio-aguda, nem muito aguda e nem muito grave. É sempre difícil falar sobre características gerais de uma classificação vocal, pois não há definições precisas, mas diferenças nas diferentes escolas de técnica vocal.”
Momentos inesquecíveis:
Cantar sob regência de Helmuth Rilling as Missas em Sol Menor e Sol Maior de Johann Sebastian Bach na Thomaskirche, ou Igreja de São Tomás em Leipzig, Alemanha, onde o compositor está enterrado, é definitivamente o momento mais emocionante e solene da minha jornada até agora. Mas também me estimulou muito cantar Il Combattimento di Tancredi e Clorinda, de Cláudio Monteverdi como Testo, sob direção de Nicolau de Figueiredo. Foi a vez que mais mergulhei em uma obra. Tivemos dez dias de preparação desta tão complexa obra, de um dos compositores que mais me identifico, e me senti muito honrado por tê-la cantado, dirigido por uma das pessoas que mais admiro, um verdadeiro gênio. Acredito que esta foi a música que melhor cantei em toda minha vida.”