A estreia brasileira de Pretty Yende e Javier Camarena
Na adolescência, quando ouviu ópera pela primeira vez, Pretty Yende pensou que era algo sobrenatural. Ela conta que achou o canto lírico tão maravilhoso a ponto de considerá-lo humanamente impossível. Na época, a garota sul-africana mal podia imaginar que possuía este dom capaz de fascinar plateias ao redor do mundo. Ontem, quando Pretty Yende se apresentou pela primeira vez no Brasil ao lado de outro superdotado – o tenor mexicano Javier Camarena – ela mostrou sua impressionante beleza vocal. Na segunda ária do programa apresentado pelos dois artistas, “Una voce un poco fa” (“Uma voz ouvi há pouco”), do “Barbeiro de Sevilha”, de Rossini, Pretty Yende fez jus à fama que a cerca hoje em dia ao mostrar sua voz límpida, de suprema beleza, capaz de expor a riqueza sonora da música, em cada detalhe. Ouvir Pretty Yende é ganhar a dimensão sobrenatural – ou sideral – do ser humano.
Em seguida, Javier Camarena interpretou a ária que lhe valeu o famoso bis em pleno espetáculo no Metropolitan Opera House de Nova York: “Sì, ritrovarla io giuro” (“Sim, eu juro que irei reencontrá-la”), de “La Cenerentola”, de Rossini. Com a mesma naturalidade de Pretty Yende, Camarena proporcionou uma interpretação arrebatadora, misturando técnica e capacidade fenomenais a imensa beleza vocal. A partir dali, o público embarcou em um espetáculo magistral, que também contou com o acompanhamento perfeito do pianista cubano Ángel Rodriguez.
Ao final, esbanjando simpatia, Pretty Yende e Javier Camarena atenderam generosamente os pedidos de bis. Outra ária que vem rendendo momentos consagradores para Camarena – “Ah! mes amis!…”, de “La Fille du Régiment”, de Donizetti – foi cantada por ele, para deleite do público.
Para completar, em tom confidencial, o tenor falou que queria cantar uma música marcante de sua infância. Surpreendendo a todos, cantou “Detalhes”, de Roberto Carlos, somando à sua estreia brasileira um ineditismo internacional.