Fayçal Karoui

Uma orquestra que faz da música uma expressão cotidiana, acessível a todos 

Por Ana Francisca Ponzio

Fayçal Karoui é reconhecido como um dos mais talentosos maestros da nova geração de regentes franceses. Atual diretor musical da L’Orchestre de Pau e também da célebre Orchestre Lamoureux, de Paris, Karoui nasceu na capital francesa em 16 de junho de 1971.

Filho de um médico tunisiano e de mãe francesa, revelou seu talento musical desde cedo. Aos 26 anos, obteve o primeiro lugar como maestro do Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris.

Em 2002, quando assumiu a direção da L’Orchestre de Pau, deu uma nova dimensão, inclusive internacional, a esta sinfônica sediada na pequena cidade que lhe dá nome, situada na região francesa da Aquitânia.

Hoje apontado unanimemente como o responsável pelo atual padrão de excelência da L’Orchestre de Pau, ele mantém um bem-sucedido projeto de democratização cultural, que faz da música uma expressão atual e popular, presente no dia a dia da cidade.

Leia a seguir a entrevista com Fayçal Karoui, que regerá a L’Orchestre de Pau nos dias 2 e 3 de junho na Sala São Paulo, em concertos que integram a Temporada 2015 do Mozarteum Brasileiro.


Comente por favor o programa que a L’Orchestre de Pau apresentará em São Paulo.

Fayçal Karoui – Eu trabalhei por bastante tempo com o maestro Michel Plasson na Orquestra Nacional do Capitole de Toulouse, que me transmitiu o gosto e o amor pela música francesa. Acredito que hoje é importante, para as orquestras francesas que fazem turnês pelo mundo, defender esta música.

É por isso que propomos a Sinfonia em Dó Maior de Bizet, para um momento de frescor e elegância no programa. Ao mesmo tempo, temos o que a música francesa pode trazer, quanto à orquestração, à música russa, em particular Rimsky-Korsakov em Shéhérazade.

Estamos igualmente felizes em propor o célebre e impressionante Concerto para Violino em Ré Maior de Tchaikovsky, com a bela solista Saténik Khourdoian.

 

Quais as ações que trouxeram efetiva vitalidade à L’Orchestre de Pau?

Karoui – Eu recriei a L’Orchestre de Pau em 2002, quando assumi sua direção e reformulei seu projeto artístico e cultural, destacando a acessibilidade ao maior número possível de plateias – incluindo escolares e habitantes afastados das áreas com maior oferta cultural. Ao mesmo tempo, passei a dar ênfase à música do nosso tempo e à música francesa.

A vitalidade da orquestra é baseada sobretudo na qualidade dos músicos e à profunda adesão a este projeto ligado à cidade e seus cidadãos. Temos em Pau 2.000 assinantes fiéis e curiosos e tocamos para cerca de 10 mil escolares por temporada.

 

O que diferencia a L’Orchestre de Pau hoje?

Karoui – Tenho muito orgulho da singularidade do projeto da L’Orchestre de Pau. Este diferencial se baseia na forte vontade de transmitir ao maior número de pessoas a nossa paixão e emoção pela música. Recriamos esta orquestra a partir da seguinte questão, para a qual procuramos respostas a cada dia: A que serve uma orquestra em uma cidade?

 

O senhor chama a L’Orchestre de Pau de “orquestra off-road”. Como é sua proposta de democratização da música?

Karoui – L’Orchestre de Pau realmente procura estar em todos os lugares, mesmo os de acesso mais difícil. Nós tocamos nas salas de concertos, nos teatros prestigiosos de todo o mundo – Japão, Espanha, Itália, França, Brasil, Marrocos, Tunísia etc., mas também adoramos tocar, com igual compromisso e entusiasmo, no pátio de uma prisão, nos hospitais, nos bairros mais distantes. Cultivamos ligações com todas as estruturas sociais e culturais da cidade e hoje cerca de 15% de nosso público assinante vem desses locais mais afastados e difíceis.

 

Qual sua proposta quanto aos programas da L’Orchestre de Pau?

Karoui – A programação é baseada no reencontro entre os pilares do repertório clássico e das músicas mais raras e/ou mais recentes. Encomendamos e criamos muita música de nosso tempo, cerca de cinco encomendas por temporada, para renovar o repertório e estimular a curiosidade do público. Também trabalhamos muito com a transversalidade de repertórios, como os do jazz, rock, hip hop, músicas de várias tradições e culturas do mundo etc.

 

Como a música sinfônica pode atrair e cativar novos públicos?

Karoui – Para mim, a música é mágica e continua a fascinar todas as pessoas que têm a oportunidade de ter acesso a ela.

É falso pensar que os jovens não amam a música clássica. Jamais escutamos tanta música quanto hoje. A escuta evoluiu muito com as novas tecnologias e é preciso continuar a propor e tornar possível o acesso à música clássica ou sinfônica.

Também é necessário tentar desenvolver a prática musical e esta é a razão pela qual teremos em Pau, a partir de outubro próximo, uma orquestra de crianças em dois bairros da cidade, sob o princípio do sistema venezuelano de difusão da música.

 

O trabalho de educação musical é então muito importante?

Karoui – Sim. Como disse, a transmissão é ideal e confio plenamente na música e em seu poder de transmitir emoção. Temos que rever os métodos de acesso à transmissão da música. Esta é a razão de estarmos colocando em prática a orquestra de crianças, à imagem do que se faz na Venezuela, com sucesso, há 40 anos. São os músicos da L’Orchestre de Pau que farão a orientação desses jovens e eu dirigirei os concertos.

 

Quais suas preferências musicais?

Karoui – Amo a música francesa, pelas suas cores particulares. Também me estimula muito a ideia de criar composições novas.

 

Nos concertos em São Paulo, a L’Orchestre de Pau terá como solista a jovem violinista francesa Saténik Khourdoian. O que o senhor pode adiantar sobre ela?

Karoui – Trata-se de uma magnífica violinista, que hoje ocupa a função de solista na importante Orchestre du Théâtre de la Monnaie de Bruxelas, na Bélgica. Nós nos encontraremos pela primeira vez em São Paulo, no maravilhoso concerto de Tchaikovsky.