
Diana Damrau
abril 5, 2017
Diana Damrau, principal soprano coloratura do mundo, estreia no Brasil
Por Ana Francisca Ponzio
“A principal soprano coloratura do mundo”. Assim Diana Damrau foi definida pelo jornal norte-americano New York Sun. Os comentários superlativos sobre a soprano alemã são comuns. Estrela lírica da atualidade, requisitada pelos mais importantes teatros de ópera do mundo, ela inaugura a programação do Mozarteum Brasileiro de 2017, na Sala São Paulo, dias 1 e 2 de maio, em um Concerto Ópera Gala que também terá a presença do consagrado baixo-barítono francês Nicolas Testé e da Orquestra Acadêmica MozarteumBrasileiro.
É a primeira vez que Diana Damrau se apresenta no Brasil. Os ingressos já estão à venda. O programa reunirá composições de Rossini, Verdi, Meyerbeer, Gounod, Bellini, Ponchielli, Gershwin e do brasileiro Carlos Gomes.
Nesta entrevista, Diana Damrau fala sobre as apresentações em São Paulo, suas preferências musicais, seu vasto repertório, sobre música como sinônimo de vida. Em tom coloquial e sem estrelismos, se revela também como mulher contemporânea, que procura equilibrar trabalho e vida familiar.
O que deseja proporcionar ao público brasileiro com o programa escolhido para as apresentações em São Paulo?
Diana Damrau – Em primeiro lugar, eu quero proporcionar uma maravilhosa noite de ópera, com lindas melodias, alegria, drama e paixão. Escolhi música italiana e francesa, de Rossini a Gounod. Há também árias de Meyerbeer, que cobrem toda esta extensão e atualmente é o “meu compositor”. Acabo de gravar um álbum com suas árias italianas, alemãs e francesas.
Por que incluiu a obra do compositor Carlos Gomes no programa?
Diana Damrau – Acho que é uma ocasião maravilhosa para incluir, em especial, a bela ária Di sposo, di padre, da ópera Salvator Rosa, de Carlos Gomes, que será cantada por Nicolas Testé. Adoro esta obra e a conheço desde meus tempos de estudante.
Em São Paulo você cantará com a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, uma formação sinfônica que está surgindo no Brasil. Quais suas expectativas com esta experiência e o que ela significa para você?
Diana Damrau – Adoro trabalhar com músicos jovens e ajudá-los a entender como acompanhar cantores, como compreender cenas dramáticas e seguir a palavra e a expressão. Certamente haverá envolvimento entre todos e teremos uma grande energia conjunta.
O baixo-barítono Nicolas Testé, seu marido, se apresentará com você. Vocês procuram se apresentar juntos sempre que possível?
Diana Damrau – Nós adoramos nos apresentar juntos e achamos que uma gala de ópera com soprano e baixo-barítono é algo muito especial. Raramente o belo repertório de baixo-barítono pode ser ouvido em concertos, na extensão que será apresentado em São Paulo. Em segundo lugar, nós somos uma família e temos dois filhos, de quatro e seis anos de idade. Tentamos estar juntos o máximo possível e levar nossos garotos conosco quando as atividades escolares permitem.
Você atua intensamente em espetáculos de ópera. A Metropolitan Opera House, de Nova York, chegou a realizar uma produção especialmente para você. Ao mesmo tempo, você aprecia apresentações em formato de concerto. O que estes dois tipos de performances lhe proporcionam?
Diana Damrau – Adoro fazer ambos. No programa que apresentaremos em São Paulo há tesouros musicais de várias óperas. Isto significa lançar-se em diferentes personagens, situações e estilos e também ter um contato mais próximo e direto com a público. Já em um espetáculo de ópera temos uma jornada de geralmente três horas, com um só personagem que, como num filme, envolve figurinos e interação
O que você considera mais marcante em seu vasto repertório?
Diana Damrau – Meu repertório contém todos os meus amores e especialidades – músicas religiosas e de câmara, canções, operetas, teatro musical e peças fundamentais de ópera – alemã, francesa e italiana. Eu comecei como pura soprano coloratura e a partir do repertório para este timbre houve a expansão para papéis mais líricos e dramáticos, até chegar à Traviata (Verdi), Condessa (de As Bodas de Figaro, de Mozart), Julieta (de Romeu e Julieta, de Gounod).
Quais são seus compositores favoritos?
Diana Damrau – As músicas de Verdi, Massenet, Gounod, Poulenc e Strauss me sensibilizam muito. Me despertam o desejo de cantar ou dançar.
Verdi é um compositor muito especial para você. O que este autor italiano transmite para uma cantora alemã?
Diana Damrau – Melodia, beleza, paixão e coragem.
Você faz algum trabalho corporal para ajudar sua expressividade cênica?
Diana Damrau – Para mim é mais um trabalho mental. Adoro representar, adoro teatro, cinema e olhar pessoas, há muito o que aprender nisso tudo e então eu escolho o que fazer. Gosto muito de dançar, estudei dança na infância e certamente isto me ajuda.
Como lidar com este instrumento musical – a voz?
Diana Damrau – A voz é carne, sangue, sou eu inteira. Para lidar com ela tenho que estar ok e em dia com minha saúde. Manter a voz como instrumento musical exige aprendizado e técnica. Há que protegê-la e usá-la.
A voz coloratura lhe dá um privilégio especial? Há algum cuidado específico, principalmente em dias de apresentações?
Diana Damrau – A voz coloratura me permite chegar ao extremo. Eu a chamo de “canto dublê” porque traz mais dificuldades, exige que você esteja realmente ok. Quando tenho apresentações procuro ter foco na energia que gasto durante o dia. Às vezes preciso de uma massagem na noite anterior para dar flexibilidade a todos os músculos do corpo.
Como você combina as habilidades de cantar e atuar? Como se prepara para interpretar uma personagem?
Diana Damrau – Tenho que conhecer a peça inteira – musicalmente e dramaticamente. Procuro saber a idade da personagem, o que me permite ter uma certa ideia de como ela se move, sobre como os sentimentos se refletem em seu corpo. É divertido explorar isto. Porém, em música você não é tão livre quanto no teatro. É preciso respeitar um certo ritmo do tempo, a música é o
que nos guia.
O que a performance ao vivo significa para você e qual sua importância no mundo tão virtual em que vivemos?
Diana Damrau – Todos que já experimentaram a performance ao vivo sabem o que é ouvir e sentir o canto sem microfones e em tempo real. Há uma energia no hall de entrada do teatro. Palco e plateia se tornam um só. Tudo isto é realmente especial e, para mim, o mais importante.
Quão importante é a música em sua vida?
Diana Damrau – Música é NOSSA vida.
Sobre o início de sua carreira: o que determinou ou influenciou sua escolha pelo canto lírico? Algum artista a inspirou?
Diana Damrau – Minhas influências são Giuseppe Verdi, Teresa Stratas e Placido Domingo. Vi o filme La Traviata, de Franco Zeffirelli, quando tinha 12 anos de idade e então disse para mim mesma: cantar é a coisa mais bela que o ser humano pode fazer e criar. Rezei para ter algum talento e comecei a aprender tudo sobre canto.
Como administra sua vida familiar em meio à sua intensa agenda artística? Seus filhos costumam acompanhá-la em suas viagens ou turnês?
Diana Damrau – Como disse anteriormente, nós viajamos e trabalhamos juntos sempre que possível. No momento temos uma professora vivendo conosco, que faz lição de casa com os garotos e cuida deles quando estamos no teatro ou nos ensaios. Viajar e explorar o mundo juntos fez com que nossas crianças aprendessem a falar alemão, francês, inglês e ainda gostar de cantar, dançar e também apreciar o burburinho da ópera. Nossos filhos sempre ficam hipnotizados quando olham e ouvem uma orquestra.
Quais são seus próximos projetos? Há algum papel especial que ainda deseja interpretar?
Diana Damrau – Faremos uma turnê pela Europa com um programa sobre a música de Meyerbeer e os compositores de sua época. Há vários papéis que quero estrear no futuro, como Maria Stuarda, de Donizetti, e Marguérite do Fausto, de Gounod. Minha meta é explorar um repertório cada vez maior, em todas as direções e com todas as possibilidades de minha voz.