Benoît Fromanger (2015)

Entrevista exclusiva: Benoît Fromanger

Por Ana Francisca Ponzio

Desde sua primeira edição, em 2012, o festival Música em Trancoso – MeT, conta com uma presença artística constante e importante: o maestro francês Benoît Fromanger. Versátil e disposto a difundir a música, ele se apresenta nos principais palcos do mundo.

Ao mesmo tempo, não dispensa locais cotidianos. Recentemente, Fromanger surpreendeu e encantou viajantes apressados ao realizar um flash mob no Aeroporto Internacional de Bucareste.

Na ocasião, inundou com belas músicas o saguão do aeroporto da capital da Romênia, em companhia de músicos da Orquestra Sinfônica de Bucareste, que o tem como diretor artístico e regente titular desde 2011. Nascido em Paris, Fromanger tornou-se maestro depois de uma bem-sucedida carreira de flautista.

No Brasil, vem estabelecendo novos e férteis intercâmbios por intermédio do Música em Trancoso. Em breve, gravará um disco com o pianista, compositor e arranjador brasileiro Cesar Camargo Mariano, que ele conheceu no MeT.

Durante o MeT 2015, Fromanger mostrará todas as suas habilidades artísticas – como solista de flauta, professor, maestro da Orquestra Experimental de Repertório, que ele regerá na abertura do festival.

 “Faço descobertas e tenho novos aprendizados a cada minuto, a cada instante, graças aos encontros com novas orquestras, novas culturas, novas paisagens”, disse Fromanger ao MeT.

Leia abaixo, a entrevista de Benoît Fromanger.


O senhor tem participado do festival Música em Trancoso – MeT desde a primeira edição, em 2012. Qual sua opinião sobre o festival? O que o MeT lhe proporciona como músico?

Benoît Fromanger – É um evento único porque está inserido em uma situação natural, ao ar livre e em relação direta com um público de todas as idades. A programação do festival é sempre muito variada e atrativa para todos os gostos musicais, além de muito descontraída. Não há preconceito. É a festa, a amizade, o compartilhamento e o bom humor que prevalecem.

Para mim, representa o reencontro com o público caloroso do Brasil, mas também com todos os artistas presentes, com os quais compartilha-se o cotidiano do festival, o que nos permite tecer relações de amizade e de criatividade, que perduram em nossas vidas.

 

No festival Música em Trancoso o senhor tem estado em contato com jovens músicos brasileiros. Como têm sido esses intercâmbios?

Benoît Fromanger – Sim, o contato efetivo com os jovens é uma das bases do festival. Os intercâmbios ocorrem sob a forma de masterclasses ou cursos, mas também em concertos, seja com as orquestras jovens, seja em conjuntos de música de câmara. A transmissão de nossa bagagem cultural, musical e humana é muito importante.

 

Como será sua participação no MeT 2015? Comente também o programa From America to France, que será apresentado na abertura, pela Orquestra Experimental de Repertório, sob sua regência. Por que enfocar esta conexão entre as músicas da América e da França?

Benoît Fromanger – Em 2015 eu vou participar de todas as atividades do festival – como maestro, solista, professor e ainda na jam session com Cesar Camargo Mariano. Pela primeira vez poderei mostrar todas as minhas facetas artísticas e isto me sensibiliza muito.

A temática do concerto America to France vem do fato de eu ser um maestro francês e, para um festival que acontece na América, esta conexão ocorreu naturalmente.

Mas, além do repertório constituído de repertório francês e americano, prevalece sobretudo a ideia e o espírito do festival, de seus intercâmbios e encontros, do compartilhamento, da tolerância e aceitação das diferenças, que geram um respeito, uma comunhão, uma curiosidade e um enriquecimento difundidos entre todos.

 

O senhor é um artista com preocupações amplas, que pensa também nas possibilidades socioeducativas da música. Fale sobre este aspecto da música, sobre o papel que ela tem na sociedade, no mundo de hoje.

Benoît Fromanger – Eu acredito muito na emoção pura da música! Muitos filósofos têm citado os benefícios da música, desde a mais tenra idade. Nós podemos transmitir o prazer de tocar um instrumento e contribuir para que as pessoas se libertem de condições precárias. O festival é uma boa demonstração disso, com o acolhimento de jovens da Bahia e de todas as regiões do Brasil.

Os brasileiros têm a chance de viver em um país fantástico, onde a música está dentro do coração e do sangue da população. Seria necessário que os políticos se convencessem de que a música influencia bons comportamentos e que nos faz feliz.

 

O senhor já realizou flash mobs. É uma maneira de introduzir a música no dia a dia, de surpreender as pessoas através da música? É importante popularizar a música clássica?

Benoît Fromanger – Sim, é importante popularizar a música, mostrar a qualidade e a surpresa que uma orquestra e os instrumentos acústicos provocam em um ambiente ao vivo! As pessoas munidas de novas tecnologias perderam a noção do som, da escuta e da energia positiva da música clássica. Os concertos que proporcionam prazer deviam receber reembolsos do seguro social!

 

O senhor é um bem-sucedido solista de flauta e ao mesmo tempo atua como regente. Por que decidiu investir também na carreira de maestro? Como concilia as duas atividades?

Benoît Fromanger – Dirigir uma orquestra é um prolongamento de minha atividade de músico. Adoro o compartilhamento e o humanismo. Sou apaixonado pela sociologia do grupo.

Mas, além disso, há a força da arte da música e da orquestra e de seu repertório, que me fascinam. Esta energia e esta paixão fazem parte de mim e, levando em conta minha grande experiência de solista, eu quis compartilhar com os músicos todas as emoções, o universo, as cores e as atmosferas que me impregnaram durante minha carreira.

Com a orquestra, sou como um escultor.  Trabalho o “barro” que os músicos me dão e procuro transformá-lo o máximo possível em uma obra-prima.

 

Quais são seus principais projetos musicais do momento?

Benoît Fromanger – Há belos projetos de regência em Israel, França, Japão e Europa. Eu faço descobertas e tenho novos aprendizados a cada minuto, a cada instante, graças aos encontros com novas orquestras, novas culturas, novas paisagens.

Há também um grande projeto de gravação com meu amigo Cesar Camargo Mariano, que surgiu como prolongamento do festival e graças a Sabine e Carlo Lovatelli. Será um disco em que eu tocarei flauta com Cesar e seus fantásticos músicos e o repertório será de canções brasileiras e européias.

Nesta mesma gravação eu também vou reger Cesar, acompanhado de uma orquestra sinfônica. Será mais uma história de amizade, de compartilhamento, de cumplicidade e intercâmbio.

 

O que o senhor acha do Teatro L’Occitane, sede do festival Música em Trancoso – MeT?

Benoît Fromanger – Este teatro é uma ideia magnífica do arquiteto François Valentiny. Graças a ele, os sonhos tornaram-se realidade! É mágico tocar ao ar livre e se por acaso chover, nós podemos nos apresentar na sala coberta, sem problemas. O teatro possui uma acústica natural formidável e para nós, músicos, proporciona uma comunhão com a natureza e o público.