Alexander Lonquich

AUSTRO-HUNGARIAN HAYDN PHILHARMONIC

A tradição única da orquestra que aboliu fronteiras geopolíticas

Por Ana Francisca Ponzio

A Austro-Hungarian Haydn Philharmonic, que dá continuidade à Temporada 2015 do Mozarteum com apresentações dias 12 e 13 de maio na Sala São Paulo, traz virtuosismo e tradição musical única para as plateias brasileiras.

Fundada há quase 30 anos, com o objetivo de ultrapassar, através da música, as fronteiras da Cortina de Ferro, que dividiu a Europa em dois blocos logo após a Segunda Guerra Mundial, a Austro-Hungarian vem acompanhada do maestro e pianista alemão Alexander Lonquich.

Em entrevista, Lonquich fala, entre outros assuntos, sobre a conexão da orquestra com a música de Joseph Haydn (1732-1809), compositor que durante três décadas trabalhou na corte da família húngara Esterházy, conhecida pelo mecenato às artes.


Haydn é um compositor chave no repertório da Austro-Hungarian HaydnPhilharmonic. O que a obra deste compositor proporciona de especial?

Alexander Lonquich – A obra de Haydn enriquece todo e qualquer programa sinfônico. Cada sinfonia de Joseph Haydn oferece um novo desfecho, rico em ideias, temas, cores, variações inesperadas. Tudo isto surpreende músicos e público a todo momento.

A plateia de São Paulo poderá descobrir e apreciar todas as qualidades de Haydn na Sinfonia Oxford, que nós selecionamos para o programa. Haydn nunca pode ser subestimado e deve ser apresentado sempre e muito mais em programas de concertos. Vale também notar que a apresentação de uma sinfonia de Haydn é ainda mais impactante quando interpretada pela Austro-Hungarian Haydn Philharmonic, com toda sua tradição na obra do compositor.

 

Além de Haydn, o programa inclui Schubert e Mozart. O que se destaca nas obras destes dois compositores, escolhidas para o programa?

Lonquich – A Quinta Sinfonia de Franz Schubert é uma peça musical maravilhosa. É mais serena do que as sinfonias anteriores que ele escreveu, além de ser permeada pela melancolia tão especial, típica e única na música de Schubert. Já o Concerto nº 25 de Mozart reflete a grandeza da obra deste compositor: combina todos os gêneros, da ópera às passagens sinfônicas e ainda o intimismo da música de câmara.

 

No concerto em São Paulo, o senhor será regente e ao mesmo tempo solista de piano da Austro-Hungarian Haydn Philharmonic. Isto também significa reviver uma tradição?

Lonquich – Sim, é uma tradição que vem da época de Mozart.

Estarei nesta dupla função na apresentação do Concerto nº 25, de Mozart. Neste tipo de situação, eu conduzo a orquestra a partir do piano. Isto permite uma interação maior e mais direta com cada músico da orquestra.

 

A Austro-Hungarian Haydn Philharmonic é uma orquestra diferenciada. O que caracteriza esta orquestra?

Lonquich – A Austro-Hungarian Haydn Philharmonic foi fundada por membros da Filarmônica de Viena e da Filarmônica Nacional da Hungria. Hoje, a Austro-Hungarian integra músicos muito destacados e a maioria vem de orquestras importantes e famosas de Viena e Budapeste. Nós fazemos parte do International Haydn Festival como orquestra residente.

A possibilidade de nos apresentar em palcos onde Haydn compôs suas músicas caracteriza as interpretações desta orquestra. Nós esperamos que esta conexão muito próxima com Joseph Haydn possa ser captada pelas plateias em concertos e gravações, as quais são todas realizadas no Palácio Esterházy.

 

Explique por favor a conexão histórica da Austro-Hungarian Haydn Philharmonic com o local onde Haydn viveu, em Esterházy.

Lonquich – A Austro-Hungarian Haydn Philharmonic foi fundada em 1987 como um projeto capaz de ultrapassar, através da música, a Cortina de Ferro – o muro entre a Áustria e a Hungria, que naquela época dividia a Europa em Ocidental e Oriental.

A área onde os dois castelos Esterházy estão situados fez parte da Áustria e da Hungria durante a história e foram separados depois da Segunda Guerra Mundial. Para o maestro Adam Fischer, fundador da Austro-Hungarian Haydn Philharmonic, fazia sentido ultrapassar fronteiras com a música de Joseph Haydn, que viveu e trabalhou na corte de Esterházy por 30 anos.

A conexão histórica é que nós apresentamos todas as óperas e sinfonias que foram concebidas e apresentadas por Haydn pela primeira vez naqueles lugares: o Palácio Esterházy de Eisenstadt, e o Palácio Esterházy de Fertöd, que era a residência de verão dos Esterházys, além de lugares como a igreja de Eisenstadt onde Haydn compôs e estreou suas missas, no órgão que existe até hoje.

Em suma, nós tentamos reviver a música de Haydn nos lugares de sua origem.

 

O senhor é um músico versátil, envolvido em vários projetos. Quais são suas preferências musicais?

Lonquich – O mais importante, em minha vida artística, é a diversidade – seja como solista de piano, músico de câmara e maestro. Também aprecio a diversidade no repertório e no estilo: gosto de interpretar tanto música antiga quanto moderna e contemporânea. Tenho a sorte de poder vivenciar esta diversidade em diferentes projetos, como no cargo de artista residente da próxima temporada da Orquestra Sinfônica NDR de Hamburgo.

 

O senhor estudou com mestres como o pianista austríaco Paul Badura Skoda.

Lonquich – Estudei com Badura Skoda a partir de 1976, durante quatro anos, na época em que eclodia o movimento da “performance autêntica”. Ele me ensinou a leitura musical “Urtext”, que enfatiza a fidelidade à intenção original do compositor, e também me proporcionou familiaridade com o Hammerklavier, que eu gosto de tocar desde então.

Badura Skoda estudou com o grande Edwin Fischer e me sinto privilegiado por ter me desenvolvido nesta tradição musical da Europa Central e da Escola Austríaca de Piano.

 

O senhor também é um educador e ministrará masterclasses em São Paulo. Quais são suas expectativas e como sensibilizar novas plateias hoje?

Lonquich – Fui muito ativo como professor, no passado. Atualmente eu tento reduzir minha “forma clássica” de ensinar, mas procuro encontrar novos caminhos e possibilidades. Sinto que a nova geração está perdendo a alegria de fazer música porque estão sob a pressão da competição.

Na minha casa eu tenho o que chamo de “Kantor Atelier”, onde tento ensinar de forma interdisciplinar, falando aos alunos sobre música, pintura, literatura, artes em geral. Também procuro novas formas de realizar um concerto, combinando todas as áreas artísticas e não somente música.

Penso que este é o caminho para chegar às jovens plateias e expandir a cultura musical hoje. Estarei ministrando masterclasses em São Paulo, organizadas pelo Mozarteum. É a primeira vez que vou ao Brasil e estou extremamente curioso com esta experiência.