Sarau dos Bolsistas compartilha com o público o talento de jovens músicos brasileiros e marca a parceria do Mozarteum com o Club Transatlântico

Proporcionar oportunidades de desenvolvimento para os talentos brasileiros da música sempre fez parte da missão do Mozarteum Brasileiro. Anualmente, seu programa de bolsas de estudos leva jovens do Brasil para as melhores instituições de formação e aprimoramento musical da Europa.

Em 2017, o Mozarteum contou com a parceria do Club Transatlântico no seu programa de bolsas de estudos. Para compartilhar com o público o talento de jovens músicos que se revelam ano a ano, foi realizado no dia 28 de novembro o Sarau dos Bolsistas, no Club Transatlântico.

Em clima intimista, em um dos belos salões deste tradicional clube paulistano, a apresentação reuniu as sopranos Camila Rabelo e Nae Matakas, o compositor Eduardo Frigatti, o violinista Éder Grangeiro e o contrabaixista Julio Nogueira. Cada um mostrou sua personalidade musical e, no conjunto, conquistaram a plateia.

A seguir, estes artistas contam um pouco de suas histórias, revelando o potencial da música entre os jovens brasileiros.

Camila Rabelo

Camila Rabelo
Soprano

Camila Rabelo tem 26 anos e nasceu na cidade paulista de Aparecida. Ela tornou-se bolsista do Mozarteum em 2015, quando participou da academia Canto em Trancoso, na qual foi uma das selecionadas para mais uma bolsa de estudos, que a levou a um período de aprimoramento na Chorakademie Lübeck, na Alemanha, em 2016.

“Receber esta bolsa foi muito importante para meus estudos e carreira, pois me permitiu aprender muito, conhecer várias pessoas, fazer contatos”, diz Camila. “Além de tudo, me estimulou a decisão de continuar meus estudos na Alemanha. No momento estou aprendendo alemão e me preparando para as provas de mestrado em 2017. Só tenho a agradecer ao Mozarteum pela oportunidade e ajuda que sempre nos oferecem”.

A beleza e a extensão da voz de Camila costumam chamar atenção. Enquanto esteve na Chorakademie Lübeck, ela participou de um concerto lírico como solista. Além de cantar How beautiful are the feet, do oratório O Messias, de Händel, interpretou as canções Dereinst e Melancholie, do ciclo Spanisches Liederspiel de Schumann e os quartetos da Petite Messe Solemnele de Rossini. Em 2017, Camila também se apresentou, com sucesso, no festival Música em Trancoso.

Desde 2008, quando iniciou seus estudos de música na Escola Municipal de Artes Maestro Fêgo Camargo, em Taubaté (SP), Camila investe intensamente em seu aprendizado e carreira. Em 2016 graduou-se no curso de Bacharelado em Canto e Arte Lírica na Universidade de São Paulo, sob orientação dos professores Francisco Campos Neto e Ricardo Ballestero. No mesmo ano formou-se no curso Ópera Studio da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim.

Ela participa frequentemente de festivais e masterclasses e seu talento já lhe rendeu premiações como o Grande Prêmio Feminino do 14º Concurso Brasileiro de Canto Maria Callas, de 2016. Também tem marcado presença em produções importantes, como a ópera Elektra, de Johann Strauss, encenada em 2016 no Theatro Municipal de São Paulo, na qual interpretou a personagem Schleppträgerin.

No momento, Camila trabalha em São Paulo como professora de música e também cantando em eventos, óperas, recitais e concertos. Sua grande meta, no entanto, é realizar o mestrado em ópera na Alemanha e lá permanecer para ingressar em uma Ópera Studio, organizações vinculadas a teatros, que proporcionam aprimoramento e experiências de palco aos artistas.

Sobre o Sarau dos Bolsistas, que em 2017 marcou a parceria do Mozarteum com o Club Transatlântico, Camila comenta: “É um momento especial, que nos proporciona um encontro artístico e nos permite falar sobre nossas experiências e expectativas sobre o futuro. É importante divulgar um projeto tão bonito, que ajuda tantos estudantes que sonham em construir uma carreira musical”.

 

Éder Grangeiro

Éder Grangeiro
Violinista

Anualmente, a programação do festival Música em Trancoso inclui uma noite dedicada à música de câmara, quando os professores que ministraram masterclasses durante o evento tocam junto com seus pupilos. Em março de 2017, na 6ª edição do festival, um jovem músico encantou a plateia ao tocar o Concerto para Dois Violinos, de Bach, em companhia de seu mestre, Lorenz Nasturica-Herschcowici, que também demonstrou sua admiração pelo então parceiro de palco, o violinista Éder Grangeiro, 26 anos. Bolsista das masterclasses do festival e também da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, Éder foi uma bela revelação do 6º Música em Trancoso.

Passados alguns meses, Éder ganhou nova bolsa do Mozarteum. De 15 de julho a 10 de agosto de 2017, ele participou da Summer Academy – Colegium Musicum, que se realiza anualmente em Pommersfelden, município do distrito de Bamberg, no estado alemão da Baviera.

“Me ajudou muito ver de perto o nível dos europeus na academia de Pommersfelden”, afirma Éder. “Me aperfeiçoei musicalmente ao conhecer ótimos artistas, de diferentes partes do mundo”.

Aos 26 anos, o paulista de São José dos Campos toca atualmente na Orquestra Sinfônica de Santo André, como spalla (ou primeiro-violino, aquele que dá o tom de afinação da orquestra e pode até substituir o maestro). Éder também integra a Camerata Fukuda e a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro. Anteriormente, durante três anos, tocou na Orquestra Experimental de Repertório.

A paixão de Éder pela música vem desde a infância. Sua formação começou aos sete anos. Hoje é bacharel em música pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Também estudou na Escola Municipal de Música de São Paulo e na Academia de Música da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).

Anualmente, ele procura participar, como bolsista, das masterclasses do festival Música em Trancoso, onde pode se aperfeiçoar com renomados mestres da cena internacional.

 

Eduardo Frigatti está ao lado da mezzo-soprano Paulina Luciuk, que no Sarau dos Bolsistas interpretou obras do compositor, acompanhada da violoncelista Amanda Ferraresi

Eduardo Frigatti
Compositor

“Nem em meus mais insanos devaneios poderia imaginar que conheceria e seria aluno de um dos mais importantes compositores do século 20, Krzysztof Penderecki. Ainda tão recente, ecoam as memórias dos encontros, concertos, museus, viagens, das caminhadas noturnas, lições, aprendizados e despedidas desse período de imersão na arte, vivências intensas e transformadoras”. Nesta declaração, o compositor paranaense Eduardo Frigatti, 32 anos, expressa um pouco de sua vivência com um dos mais influentes e celebrados autores da história da música.

Em 2015, uma bolsa de estudos do Mozarteum levou Eduardo Frigatti à Polônia, para estudar com Krzysztof Penderecki, na Academia de Música de Cracóvia.

Desde então, Eduardo vem se aprofundando cada vez mais na composição musical. Atualmente, ele realiza doutorado na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), sob a orientação do compositor Dr. Silvio Ferraz.

Constantemente, tem participado de concertos, festivais e eventos de música contemporânea, para fazer com que sua produção musical seja executada e mais conhecida. “Compartilhar meu trabalho é um modo de dividir minhas reflexões e inquietações pessoais com as pessoas”, diz. “Isto é fundamental e neste momento tenho me concentrado em criar oportunidades para que essa produção chegue ao público”. Por isso, Eduardo acha importante o apoio oferecido por instituições como o Mozarteum, não só para a formação acadêmica, mas também para auxiliar o início de carreira de jovens artistas.

“Me agrada muito poder compartilhar parte da minha produção em oportunidades como a do Sarau dos Bolsistas, no Club Transatlântico”, comenta Eduardo. “Lá poderei mostrar uma pequena parte da produção que realizei durante a residência artística que a bolsa do Mozarteum proporcionou. Além disso, o Sarau é um bom momento para ter um feedback sobre essa produção que, espero, toque a plateia de alguma maneira.”

Para interpretar duas canções de sua autoria, inspiradas na poesia de Federico García Lorca, Eduardo Frigatti convidou a mezzo-soprano Paulina Luciuk e a violoncelista Amanda Ferraresi. Foi a oportunidade, no Sarau dos Bolsistas, de conhecer a obra deste novo e promissor compositor brasileiro.

 

Julio Nogueira está entre os músicos Rubens Müller e Guilherme Oliveira, da Banda Denker

Julio Nogueira
Contrabaixista

Ao talento reconhecido, o contrabaixista Julio Nogueira soma versatilidade musical para transitar entre o popular e o erudito, além de facilidade especial para se comunicar com o público. Com isso, consegue se destacar tanto na Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, na qual é chefe do naipe de contrabaixos, quanto nas apresentações que realiza com sua banda, a Denker. Misturando rock com música clássica, a Denker investe em músicas autorais e traz o contrabaixo acústico para o centro das atenções, como instrumento solista. Além de Julio, fazem parte da banda Rubens Müller (voz e violão) e Guilherme Oliveira (guitarra/violão).

No Sarau dos Solistas realizado no Club Transatlântico, Julio se apresentou com a banda Denker e mostrou por que vem conquistando oportunidades – entre outras a bolsa de estudos que o levou, entre julho e agosto de 2017, para a Summer Academy – Collegium Musicum, na Alemanha. Também em 2017, participou como músico convidado dos concertos realizados pela Orquestra Sinfônica de Bucareste no Teatro L’Occitane, em Trancoso, a convite do próprio regente desta orquestra romena, o maestro francês Benoît Fromanger.

“Sou imensamente grato ao Mozarteum Brasileiro e parceiros por me proporcionarem oportunidades tão incríveis e maravilhosas, que tive o prazer e o privilégio de trilhar. Estendo os meus agradecimentos ao maestro Carlos Moreno, regente titular da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, por acreditar em meu trabalho e me ajudar a entregar o meu melhor, sempre”, diz Julio.
Ex-integrante da Orquestra Experimental de Repertório, Julio Nogueira estudou na Escola Municipal de Música e cursou bacharelado em contrabaixo na Universidade Estadual Paulista (Unesp), sob orientação de Valerie Albright. Em 2016, com a banda Denker, ele participou da Bass Europe, convenção internacional de contrabaixos realizada em Praga, capital da República Tcheca. Intercâmbios são constantes na carreira de Julio, sempre interessado em trocar experiências, aprendizados e informações em masterclasses e eventos musicais.

Sobre a bolsa de estudos que o levou à Summer Academy – Collegium Musicum, Julio salienta: “A minha estada em Pommersfelden foi simplesmente incrível! Lá aprendi muito sobre liberdade, humildade, facilidade em realizar. Conheci muita gente interessante e maravilhosa. Eram músicos de 26 nacionalidades reunidos. Essa convivência enriqueceu demais meu repertório, minha cultura, meu entendimento sobre o mundo, a vida e muito mais. Fiz música de altíssimo nível, convivi com pessoas que a todo instante entregam o seu melhor e que não se contentam com o resultado medíocre”.

Ele acrescenta que esta experiência transformadora o levou a uma mudança de paradigmas. “Houve um entendimento de quem eu sou, de quem eu posso ser, dos meus potenciais, das minhas limitações e sobre como posso ultrapassar obstáculos”.

Entusiasmado, Julio ainda lembra que a Summer Academy – Colegium Musicum se realiza em um castelo construído no século 18 para abrigar as artes e considerado uma obra-prima do estilo barroco. “A estada em Pommersfelden também me fez entender a música barroca”, observa.

Para Julio, oportunidades como esta são fundamentais para a evolução artística e humana de um músico. “Nos permitem criar conexões e laços que impactam profundamente nosso desenvolvimento”, conclui, fazendo uma citação do filósofo Espinoza: “A vida é feita de encontros e de nossa capacidade de afetar e ser afetado por esses encontros. Não há como viver a vida do mesmo jeito depois de um encontro potente”.

Nae Matakas

Nae Matakas
Soprano

Foi o piano, que começou a estudar aos seis anos de idade, que levou Nae Matakas para o mundo da música. Não demorou muito para ela descobrir sua afinidade pelo canto. Aos nove anos, entrou no Coro Infantil da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Em seguida, ingressou no Coro Juvenil da mesma orquestra, e aos 18, como bolsista, passou a cantar no Coro Jovem do Estado. Foi nesta época que decidiu estudar canto lírico na Escola Municipal de Música de São Paulo, na classe da soprano Laura de Souza. Paralelamente, seguiu cursando seu bacharelado em artes visuais na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).

Quatro anos atrás, em um festival de Juiz de Fora (MG), Nae descobriu – e se apaixonou – pela música antiga. Imediatamente, ingressou no curso de canto barroco da Escola de Música do Estado de São Paulo – Tom Jobim, ministrado por Marília Vargas. Logo em seguida, como bolsista, passou a fazer parte do Coro Acadêmico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP).

Desde então, investe cada vez mais em sua formação. Em 2014, na Alemanha, participou do Lyric Opera Studio Weimar, onde integrou o elenco da ópera A Flauta Mágica, de Mozart. Além de realizar masterclasses com diferentes mestres, tem marcado presença em produções operísticas de São Paulo – como Suor Angelica e Gianni Schicchi, ambas do compositor Giacomo Puccini, encenadas na Fábrica de Óperas da Universidade Estadual Paulista, sob direção do maestro Abel Rocha.

Por força das circunstâncias, Nae Matakas nasceu em Tóquio, Japão, em 1993, quando seu pai lá realizava uma pós-graduação. Aos dois anos de idade, ela e a família já estavam de volta a São Paulo, onde vivem até hoje. No momento, ela se prepara para alçar mais um voo: graduar-se em música na Alemanha, a partir de 2018.

A perspectiva de desenvolver-se artisticamente na Europa se intensificou nos últimos três anos, ao participar como bolsista das edições de 2015 a 2017 da academia Canto em Trancoso, programa de intercâmbio e aprimoramento de cantores realizado pelo Mozarteum Brasileiro, em parceria com a Chorakademie Lübeck, da Alemanha.

No Canto em Trancoso de 2016 ela foi selecionada para a bolsa de estudos adicional que lhe permitiu se aprimorar na Polônia em 2017, no projeto lá realizado pela Chorakademie Lübeck. Sobre as perspectivas que tal oportunidade lhe trouxe, ela afirma: “Estes apoios são fundamentais para nós, estudantes de música. Nos ajudam a ter contato com outras formas de ver e realizar música, tanto tecnicamente como artisticamente, além de nos trazer postura de trabalho e abertura de novos horizontes. São ocasiões muito motivadoras e enriquecedoras”.