Percussionista Ana Luiza Cassarotte ganha bolsa do Mozarteum para estudar no OAcademy Music Conservatory, instituição inovadora de ensino dos Estados Unidos

Ana Luiza Cassarotte, 27 anos, é um talento diferenciado. Em orquestras, ela é a percussionista, cuja função é manter o ritmo e a pulsação da música, tocando vários instrumentos. É um desafio que esta paulista da cidade de Charqueadas se impõe, com muita paixão e prazer.

Como percussionista de música clássica, uma especialidade não muito comum entre mulheres, Ana Luiza tem que dominar, em espetáculos orquestrais, uma coleção de instrumentos que inclui tímpanos, xilofone, vibrafone, carrilhão, marimba, guizos, pratos e triângulos, entre outros.

Contudo, Ana Luiza tem uma preferência especial: as castanholas, utilizadas há milênios, desde a época dos fenícios e que depois tornaram-se instrumento nacional na Espanha.

Em 7 de dezembro de 2022, no espetáculo Noite das Estrelas, realizado na Sala São Paulo para colocar em destaque jovens talentos que participam dos programas de educação musical do Mozarteum, Ana Luiza conquistou a plateia em seu solo de castanholas, na música La Boda de Luis Alonso, uma zarzuela do compositor Gerónimo Giménez. Acompanhada da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, com a qual havia tocado pela primeira vez em agosto daquele ano, Ana Luiza brilhou e mostrou todo o poder de um instrumento que geralmente é considerado coadjuvante, se comparado a violinos, violoncelos e flautas.

Agora, neste início de 2024, Ana Luiza comemora mais uma conquista: a bolsa de estudos viabilizada pelo Mozarteum Brasileiro para que ela seja aluna do OAcademy Music Conservatory. Instituição de ensino inovadora dos Estados Unidos, OAcademy se propõe a reinventar a educação musical para as demandas do mundo real.

“Reunimos os melhores músicos em ascensão, os melhores mentores do mundo e as principais instituições globais para cultivar o talento de amanhã”, declara OAcademy, que escolheu Ana Luiza entre outros candidatos brasileiros. Para tornar o estudo mais acessível, OAcademy utiliza aulas online, complementadas por vivências presenciais.

As aulas de Ana Luiza na OAcademy começaram em 16 de janeiro e devem prosseguir, neste primeiro semestre de 2024, até 26 de junho. Na instituição, também realiza o sonho de estudar com a professora escocesa Evelyn Grennie, uma sumidade da percussão, cujo talento já lhe rendeu a condecoração da Ordem do Império Britânico em 2008.

Na entrevista a seguir, Anna Luiza Cassarotte conta sua história e comenta sobre a empolgação de estudar na OAcademy.

Fale sobre sua iniciação musical e por que escolheu a percussão?

Meus primeiros contatos com música foram através de meu avô, quando eu o via tocar violão e cantar em rodas de capoeira que minha mãe participava. Minha mãe conta que me colocavam para tocar atabaque e o mestre dizia que eu levava jeito. Mas, meu estudo formal começou na banda da minha cidade, a Corporação Musical União Charqueadense. Charqueada é uma cidade pequena, com uma banda de mais de 30 anos, muitos passaram por lá. Comecei nesta banda aos oito anos e fiquei até a pandemia. Em 2005 realizei meu primeiro concerto.

Você chamou atenção ao fazer um solo de castanholas no espetáculo Noite das Estrelas, realizado pelo Mozarteum em 2022 na Sala São Paulo. Por que se interessou por esse instrumento de percussão?

Eu sempre gostei de castanhola de mão. Na banda de minha cidade tinha um par de boa qualidade e eu, desde criança, adorava. Tentava tocar com a informação que obtinha de colegas.

O tempo passou e sempre tive carinho e curiosidade pela castanhola de mão – as quais eu prefiro porque há modelos adaptados, em que a castanhola vira uma espécie de baqueta.

Eu havia começado a tocar com a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro quando, num dos ensaios, tive a sorte do professor Leandro Lui, que também integra a orquestra, me escalar para tocar as castanholas. A partir daí veio a ideia de fazer o solo no espetáculo Noite das Estrelas, em dezembro de 2022, e foi uma benção.

Comprei uma castanhola profissional, procurei uma professora, Sonia Quiroga, e estudei bastante. Teve um contratempo no meio disso, fraturei meu dedo anelar direito por causa de uma mordida de cachorro, foi necessária uma cirurgia a 26 dias do concerto, mas consegui adaptar. Inverti a mão dominante da direita para a esquerda e, no concerto, coloquei um lenço na mão, encobrindo tala e ferros do curativo. Funcionou!

Ser percussionista é conhecer vários instrumentos da orquestra. Quais as exigências para toda essa variedade de instrumentos?

 Tocar percussão é um desafio. Exige muita adaptação e flexibilidade porque são muitos instrumentos e é difícil conseguir acesso a eles até para estudo.

Em uma orquestra, sinto que o conjunto de instrumentos da percussão exige um envolvimento maior por parte do músico. Eu brinco que se um dia a gente acordar de mau humor e não quiser falar com ninguém, simplesmente chegar e tocar, tem que mudar de instrumento porque, na percussão, entre outras coisas, temos que falar com os colegas sobre os instrumentos, que são compartilhados, falar com os montadores, negociar posicionamento dos instrumentos etc.

O que representa a oportunidade de estudar na OAcademy?

A oportunidade de estudar na OAcademy é um verdadeiro presente. Sempre fui apaixonada pela professora Evelyn Grennie e nunca imaginei que pudesse ter algum contato com ela. Desfrutar deste contato e poder me colocar musicalmente no âmbito internacional através das aulas e conferências também é um direcionamento que desejava demais. São muito importantes as portas que a OAcademy pode abrir para mim. Além de tudo isso, há ainda a orientação musical, que certamente será muito rica.

Qual a importância de tocar na Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro (OAMB)?

A OAMB é uma orquestra diferenciada, que está interessada no desenvolvimento musical dos integrantes. É incrível o tanto que fazem por nós. Eu sinto, de coração, que é como uma família. Nunca imaginei que uma orquestra pudesse me ajudar tanto. E sei que fazem e fizeram isso com muitos músicos. Agradeço muito pelo privilégio de ser um deles.

Quais seus planos profissionais? Pretende se dedicar somente à música, à percussão?

Estou envolvida com música até o último fio de cabelo e pretendo que continue assim. Gosto muito e tem dado certo, acho que esse é o caminho mesmo. Pretendo ter trabalhos que me deem condições de continuar sempre crescendo profissionalmente.

O que significa a música em sua vida?

A música tem um lugar enorme em minha vida, pois convivo há 24 anos com ela, diariamente, cada vez com mais envolvimento. Representa o que eu penso quando acordo e quando vou dormir, o jeito como planejo meu dia. Me sinto a serviço da música.

 

Fotos: Cauê Diniz