Uma jovem soprano brasileira se destaca na Chorakademie Lübeck, o conjunto coral da Alemanha, que se apresenta dias 23 e 24 de junho na Sala São Paulo, em continuidade à Temporada 2015 do Mozarteum Brasileiro.
Lilian Giovanini, paulista de Ribeirão Preto, nasceu em 15 de maio de 1990. Em Carmina Burana, a célebre cantata de Carl Orff que faz parte do programa que a Chorakademie apresentará em São Paulo, Lilian cantará como soprano solista. Será sua estreia brasileira como integrante da Chorakademie Lübeck, que reúne cantores de vários países.
Nesta entrevista, Lilian fala sobre as expectativas de voltar ao Brasil para estas apresentações, sobre sua trajetória que se iniciou em uma audição do Mozarteum Brasileiro e a Chorakademie Lübeck, que lhe abriram as portas para a carreira internacional.
Qual a grande atração que a arte do canto lírico exerce sobre uma jovem como você?
Lilian Giovanini – Sou apaixonada por este universo. O canto lírico é uma força que alimenta minha existência. Não me vejo exercendo outra profissão que não seja a música, principalmente cantando.
Como foi sua iniciação no canto lírico e como você percebeu que esta arte seria sua profissão?
Lilian Giovanini – A música sempre fez parte de minha vida. Me iniciei no canto desde muito pequena, cantando em diversos corais. Aos 15 anos, decidi estudar música, assim como canto popular. Minha tia, que regia um dos coros em que eu cantava, influenciou esta decisão, disse que eu precisava fazer aulas de canto.
Só fui conhecer o universo da música erudita e do canto lírico quando completei 16 anos e comecei a fazer parte da Companhia Minaz de ópera, de Ribeirão Preto.
Fui até esta companhia para fazer audição logo depois de vê-la no teatro, em uma produção de A Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Aquela apresentação me deixou completamente apaixonada, por tudo, coro, solistas, encenação.
Aprovada na audição, comecei a cantar no coro juvenil da Companhia Minaz. Passei a ter aulas de canto lírico com o tenor Alexandre Galante. Em seguida, ingressei no coro adulto da Minaz, fiz aulas de educação musical e, de repente, já estava completamente imersa e apaixonada pelo mundo da ópera.
Aos 18 anos, eu troquei a faculdade de publicidade e propaganda, onde cursava o primeiro ano, para ingressar no curso de música da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto. Foi quando decidi que o canto lírico seria minha profissão.
Como você ingressou na Chorakademie Lübeck?
Lilian Giovanini – Em 2012, participei das audições do Mozarteum Brasileiro em parceria com a Chorakademie Lübeck e fui para a Alemanha pela primeira vez em 2013 como bolsista para o festival de música Schleswig-Holstein, dirigido pelo maestro Rolf Beck. Foi quando o conheci. Naquele mesmo ano, ele me convidou para fazer parte da Chorakademie Lübeck a partir do ano seguinte, 2014.
Desde então, participei de vários projetos importantes realizados na Alemanha e em outros países, sob regência de grandes profissionais, como Helmuth Rilling e o próprio Mr. Beck.
A Chorakademie Lübeck abriu portas para você?
Lilian Giovanini – Sim, a Chorakademie me trouxe oportunidades e me abriu grandes portas internacionais, como por exemplo cantar na Coreia do Sul e na China, onde nos apresentamos com a Orquestra Sinfônica de Xangai, sob regência do maestro e diretor musical Yu Long.
O que significa para você o seu solo em Carmina Burana, de Carl Orff? O que esta obra coral exige dos cantores?
Lilian Giovanini<– Carmina Burana e os solos que realizo nesta obra vêm caminhando comigo em vários momentos importantes de minha vida.
Foi meu début como solista em 2009, na inauguração do Teatro Minaz, em Ribeirão Preto. Cinco anos depois, em 2014, fiz meu début internacional, na Ásia, também no papel de soprano solo de Carmina Burana.
Poder cantar Carmina agora no Brasil, e principalmente na Sala São Paulo, é maravilhoso!
É uma obra que exige grande flexibilidade dos cantores, tanto do barítono e tenor quanto da soprano.
Depois das apresentações em São Paulo, o maestro Rolf Beck e alguns integrantes da Chorakademie Lübeck irão para Trancoso (Bahia), para realizar a 1ª academia Canto em Trancoso, um programa de workshops para jovens bolsistas brasileiros. Você acha que esta ação trará oportunidades para estes cantores participantes?
Lilian Giovanini – Não estarei lá para esta primeira academia, mas tenho certeza que será um sucesso. Sem dúvida, esta troca de cultura, conhecimento e experiências musicais será muito importante e proveitosa tanto para os jovens brasileiros participantes quanto para os jovens de todas as partes do mundo da Chorakademie, que estarão no Brasil.
O que a Chorakademie Lübeck representa para você hoje?
Lilian Giovanini – Hoje a Chorakademie representa para mim a resultante sonora da mistura de várias nações.
A Chorakademie integra pessoas da África do Sul, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Chile, Nigéria, Turquia, Rússia, Alemanha, Israel, Bulgária, Coreia do Sul, entre muitos outros países. Um pouco de cada uma dessas culturas está presente em cada repertório e concerto.
Ações como esta, de levar parte do coro para experiências como cantar no Brasil, Ásia etc., são inesquecíveis para todos nós.
Você acha que há uma plateia jovem para o canto coral e a música lírica? É possível atrair novos públicos para esta expressão artística?
Lilian Giovanini – Vamos tomar como exemplo a ópera. A meu ver, creio que o interesse de muitos jovens pelo canto lírico é o fato de que esta arte está se aproximando cada vez mais da estética do cinema. Esta aproximação quebra um pouco aquela velha barreira que existe entre os jovens, e até mesmo os mais velhos, e a música erudita.