Benoît Fromanger (2017)
Benoît Fromanger: Entrevista exclusiva com o maestro, que se apresenta à frente da Orquestra Sinfônica de Bucareste no Teatro L’Occitane, em Trancoso
Por Ana Francisca Ponzio
Benoît Fromanger nasceu em Paris e desde 2011 é regente titular da Orquestra Sinfônica de Bucareste, que se apresenta dias 3 e 4 de novembro no Teatro L’Occitane, em Trancoso, com dois solistas convidados — a soprano Joanna Woś e o tenor Tadeusz Szlenkier, ambos poloneses.
Será o primeiro concerto de uma orquestra de renome internacional neste teatro, que até então vinha recebendo grandes músicos e formações orquestrais somente na programação do festival Música em Trancoso.
Para Benoît Fromanger, o Teatro L’Occitane é um palco familiar. Como solista de flauta e maestro de orquestras brasileiras, ele tem se apresentado no festival Música em Trancoso desde sua primeira edição, em 2012.
Foi como flautista que ele começou a construir sua brilhante carreira. No Conservatório de Paris, onde se formou, teve mestres ilustres, como Roger Bourdin e Jean-Pierre Rampal. Depois tornou-se solista da Orquestra da Ópera Nacional de Paris, onde atuou por dez anos.
Em seguida ingressou na Orquestra Sinfônica da Rádio da Baviera, com a qual se apresentou com uma constelação de grandes regentes – entre outros Leonard Bernstein, Carlos Kleiber, Lorin Maazel, Bernard Haitink, Zubin Mehta, Carlo Maria Giulini, Daniel Barenboim.
Quando resolveu se tornar maestro, novamente estudou e conviveu com grandes personalidades da música mundial – como o regente russo Valéry Gergiev, que foi seu mentor, e o renomado pedagogo Rolf Reuter, em Berlim.
Hoje, além de dirigir na Romênia a Orquestra Sinfônica de Bucareste, que traz de seu país uma tradição musical secular, Benoît Fromanger circula pelo mundo como regente convidado de muitas outras orquestras – como a Metropolitana de Montréal, a Sinfônica da Rádio Eslovena, a Filarmônica do Reno, a Filarmônica de Belo Horizonte.
Na entrevista a seguir, Benoît Fromanger fala sobre as apresentações em Trancoso com a Orquestra Sinfônica de Bucareste e revela sua forte ligação com o Brasil.
Você já tem uma ligação forte com o festival Música em Trancoso, do qual participa como maestro e solista de flauta desde a primeira edição, em 2012. Agora, no Teatro L’Occitane, palco sede do festival, você se apresentará com a Orquestra Sinfônica de Bucareste, da qual é regente titular desde 2011. Como você vê toda esta atividade cultural neste teatro, nesta região do Brasil?
Benoît Fromanger – Para mim este lugar é mágico ! Não somente por sua paisagem e por seu magnífico teatro, mas igualmente pelas pessoas que imaginaram este ambiente cultural e que fazem funcionar tudo o que lá acontece.
Considerando que você conhece Trancoso, o festival, o Teatro L’Occitane, qual o significado, agora, das apresentações da Orquestra Sinfônica de Bucareste neste lugar do Brasil? O que você espera dessas apresentações ?
Benoît Fromanger – É preciso manter a vitalidade deste lugar único através de todo tipo de ação cultural ao redor do festival Música em Trancoso. Os concertos da Orquestra Sinfônica de Bucareste são igualmente importantes para as pessoas que vivem na região, pois não são reservados unicamente para uma elite.
É preciso mostrar que a música clássica é uma música « natural », eu diria « bio ». Ou seja, é feita por homens e mulheres que criam música a partir de instrumentos naturais, sem suportes eletrônicos. Esperamos oferecer o entusiasmo e a energia de um país distante geograficamente, a Romênia, mas que será apreciado e compartilhado pelos brasileiros.
Acho que, como eu, os músicos vão adorar e vão dar o melhor deles mesmos nestas apresentações em Trancoso.
Qual o enfoque do programa que será apresentado?
Benoîr Fromanger – É um programa magnífico, com enfoque na ópera, com dois grandes cantores convidados.
O que caracteriza a Orquestra Sinfônica de Bucareste e seu repertório?
Benoît Fromanger – São músicos de raízes eslavas mas ao mesmo tempo latinas, por conta da língua e do comportamento. Portanto, é esta grande mistura que marca o que eles sentem pela música. O projeto artístico da Orquestra Sinfônica de Bucareste é muito vasto e nós temos um repertório que vai do sinfônico à ópera, passando pelo “crossover”, com músicas populares do mundo. É preciso se abrir para o mundo!
Qual a função da arte, da música, hoje?
Benoît Fromanger – A função da música é o amor! Através de muitos encontros. É preciso sempre estar curioso e seguir adiante dos jovens e menos jovens para lhes mostrar que a música gera enorme carga de emoções e de amor.
Você é um maestro que possui grande desenvoltura cênica, que sabe se comunicar com a plateia. Qual a importância desta conexão com o público, como ela se estabelece no seu caso?
Benoîr Fromanger – Temos que ser nós mesmos… Eu adoro gente, adoro compartilhar, ter o prazer de mostrar que os artistas são pessoas “normais” e simples. Há muitas “divas” ou pessoas que se acham indispensáveis! Precisamos permanecer humildes, honestos e sempre positivos!
Junto da Orquestra Sinfônica de Bucareste você procura introduzir a música no dia a dia, com apresentações inclusive em locais públicos. Acha importante popularizar a música clássica?
Benoîr Fromanger – Sim, com muita energia e entusiasmo de seguir adiante com pessoas, proporcionar prazer e romper um pouco os velhos códigos ligados à música clássica, que às vezes são muito sérios.
Você tem trabalhado com orquestras e músicos brasileiros. Além dos contatos através de masterclasses, em 2017 você regeu a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro no festival Música em Trancoso. O que estas experiências têm lhe proporcionado, o que pensa sobre os músicos brasileiros?
Benoîr Fromanger – Os músicos brasileiros são muito talentosos e é sempre uma troca. Aprendo sempre, as diferentes culturas me enriquecem, me fazem enxergar outras perspectivas por meio de outros pontos de vista e alimentam minha música. É preciso sempre se manter aberto e se colocar questões para avançar na vida, assim como na música!
É uma oportunidade extraordinária termos a Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro como a orquestra do festival. É um reservatório magnífico de jovens músicos, que são apoiados pelos profissionais. É um grande prazer e uma grande renovação fazer música com eles.
Por que um solista de flauta bem-sucedido como você decidiu se tornar maestro? Como são suas diversas atividades hoje?
Benoîr Fromanger – Me apresentei muitíssimas vezes pelo mundo como solista e me tornar maestro foi um prolongamento natural da carreira. Eu estudei com os maiores maestros antes de me lançar. Devo dizer que o encontro com Sabine e Carlo Lovatelli, que são hoje amigos próximos, foi determinante.
Eles acreditaram em mim, me deram confiança e apoio. É meu propósito compartilhar emoção e felicidade com eles e com o público. Hoje eu viajo muito, regendo orquestras no Japão, Américas e Europa.
Quais seus próximos planos, inclusive com a Orquestra Sinfônica de Bucareste?
Benoîr Fromanger – O compromisso imediato da Orquestra Sinfônica de Bucareste é realizar uma turnê pela América Latina. Depois eu vou dirigir orquestras em Tóquio, França, Eslovênia e, claro, no festival Música em Trancoso! Aguardo tudo com impaciência.
Pode-se dizer que você já possui uma ligação forte com o Brasil?
Benoît Fromanger – O Brasil é como uma segunda família para mim. A música está presente nas pessoas. E eu adoro gente, adoro pessoas. Tudo é possível quando se proporciona acesso à cultura para todos. Eu certamente fui brasileiro em uma vida anterior.