Série #NossosTalentos | Noite das EstrelasVinícius Costa, barítono
Dias 8 e 9 de outubro, na Sala São Paulo, o Mozarteum encerra sua programação de 2018 com os concertos Noite das Estrelas. Em cena, acompanhados da Orquestra Acadêmica Mozarteum Brasileiro, sob regência de seu maestro titular, Carlos Moreno, estarão 12 jovens solistas brasileiros com carreiras promissoras, que em algum momento foram impulsionadas pelo Mozarteum. Vale a pena conhecê-los: são novos talentos que despontam inclusive na cena internacional, comprovando a potência musical brasileira.
Vinícius Costa, barítono
Nascido e criado na zona leste de São Paulo, Vinícius Costa acaba de se mudar para a Europa, onde já está estudando na Hochschule für Musik, na cidade de Basiléia, considerada a capital cultural da Suíça. Este jovem barítono de 23 anos nunca tinha saído do Brasil até ganhar a bolsa de estudos da 3ª academia Canto em Trancoso, que lhe permitiu participar da Chorakademie Lübeck, na Alemanha, em junho e julho de 2018.
A dedicação e o talento de Vinícius renderam frutos rapidamente e agora, em setembro de 2018, ele inicia nova fase. A oportunidade de estudar e viver na Suíça e sua participação nos concertos Noite das Estrelas são as primeiras vitórias deste jovem músico brasileiro, em busca da evolução artística.
Momento atual:
“Sou recém-chegado na Europa. Acabei de ser aprovado na Hochschule für Musik em Basiléia, na Suíça, para um curso de graduação em canto, na classe do professor Marcel Boone. Conheci o professor Marcel na academia Canto em Trancoso. Eu não estava tendo aulas com ele, mas pedi que ele me escutasse por 15 minutos depois da última masterclass do dia. Ele gentilmente me ouviu e me deu algumas dicas preciosas. Decidi que queria ter aulas com ele, que também pareceu gostar bastante da ideia de me ter como aluno. Então fiz a audição e estou em Basiléia hoje, iniciando meus estudos na Hochschule.”
Primeiras impressões na Suíça:
“Iniciei meus estudos em Basiléia no início de setembro de 2018. Aqui temos uma estrutura absurda. O aprendizado acontece de forma muito mais concreta, oferecem sempre o melhor possível para uma boa qualidade de ensino. Estou me sentindo abençoado por estar vivendo esta experiência!”
Expectativas:
“Não tenho ganância pela fama como cantor. Admiro muito a arte do canto e quero estudar e batalhar para ser um cantor experiente. Porém, uma grande motivação seria melhorar a qualidade do ensino de música erudita no Brasil. É uma arte transformadora, muitos professores mudaram minha vida – como Narayani Hamsa e Paulo Cavalcante do programa Guri Santa Marcelina; minha mãe do canto, Maria Lucia Waldow; Gabriel Rhein-Schirato, que domina tudo sobre ópera; Marcel Boone, que me abriu as portas na Europa e está me dando todo o suporte neste início de caminhada por aqui e meu mestre eterno Francisco Campos, que me deu aulas de graça na casa dele por dois anos e me preparou para enfrentar esta nova etapa na Europa. Todos esses professores me inspiraram e acho que minha expectativa de carreira é ser um professor tão bom e tão inspirador quanto os meus mestres são para mim.”
Como tudo começou na música:
“Comecei de um jeito engraçado. Através de minha tia Erô conheci o Guri Santa Marcelina quando ainda era um projeto e lá busquei o aprendizado de um instrumento. Escolhi o mais diferente, sempre fui muito curioso e comecei a estudar trompa em 2009. Desde então, este é meu instrumento predileto. Eu era uma criança afinada, mas no início tinha muita vergonha de cantar. Um dia, na aula de coral da escola, a professora disse que precisaria de um solista para cantar a música do filme Mudança de Hábito, Oh Happy Day!. Eu não me candidatei, obviamente. Mas um amigo me ouviu cantar o solo no banheiro e me obrigou a me apresentar para a professora, que acabou me escolhendo. Aí eu cantei, gostei e a partir de então o meu amor pelo canto foi crescendo. Até que em 2014 eu resolvi trocar meu curso no Guri, mudei de trompa para canto. Depois de um ano estudando canto, fui aprovado na Escola Municipal de Música de São Paulo e no Coral Acadêmico da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Tive momentos incríveis neste coral. Logo em seguida participei das academias Canto em Trancoso, dos festivais Música em Trancoso, entrei para o Ópera Studio do Theatro Municipal de São Paulo e agora estou em Basiléia vivendo uma experiência de muito aprendizado.”
Compositor preferido:
“Sou apaixonado por música de câmara alemã. A combinação de poesia e música me fascina. Me identifico muito com a poesia em língua alemã e em minha humilde opinião de estudante quem melhor faz esta combinação é Franz Schubert. Então meu compositor favorito é ele, com certeza. Não ouso dizer que ele é o melhor, mas para meus ouvidos ele é o que mais me agrada.”
Cuidados cotidianos:
“Todos os professores de canto concordam que se canta com o corpo. Ultimamente tenho cuidado melhor da saúde, meu corpo está agradecendo e minha voz também. Além de estar com a técnica vocal em dia, é fundamental cuidar da saúde.”
Ser artista lírico no Brasil:
“É um desafio e tanto ser músico no Brasil. Infelizmente poucos são capazes de lidar com as situações difíceis que precisam ser enfrentadas. A mais desafiadora delas, na minha opinião, é a falta de mercado. Isto faz com que muita gente desista no meio do caminho. Fora a pressão que colocam sobre nós o tempo todo. Mas há uma nova geração fazendo um bom trabalho, graças inclusive ao Mozarteum, que tem dado oportunidades. Acredito que no futuro teremos melhores profissionais para ajudar a música no Brasil, a melhorar a qualidade e a estrutura de ensino da música no País.”
Noite das Estrelas:
“Os espetáculos Noite das Estrelas vão me proporcionar a realização de um sonho: cantar na Sala São Paulo e ainda como solista convidado. Não existe melhor escola que o palco e será uma experiência incrível subir pela primeira vez em um dos palcos mais famosos do meu país, onde se apresentaram tantos amigos talentosos e músicos incríveis do mundo todo. Vou cantar Non più andrai, da ópera Le nozze di Figaro de Mozart. É uma ária muito divertida, um desafio técnico para mim, mas creio que estou fazendo uma boa preparação. ”
Canto em Trancoso:
“Na primeira vez que participei da academia Canto em Trancoso, em 2016, senti muito a pressão de aulas e ensaios intensos para preparar um programa longo e de qualidade em uma semana. Eu não estava acostumado. Porém, não se aprende nada em zonas de conforto. Fiquei rouco no final da academia, mas prometi a mim mesmo que no ano seguinte eu evoluiria muito para criar resistência e aproveitar melhor as aulas. Meus professores me ajudaram muito, inclusive Lucia Duchonová, que viu meus vídeos e me deu dicas para me aprimorar mais para o ano seguinte. Em 2017 eu já estava com outra consciência sobre a academia e sobre o canto. Aproveitei muito mais o Canto em Trancoso de 2017, no final fui presenteado com um solo no concerto de encerramento, e ainda ganhei a bolsa para estudar na Alemanha em 2018, que me permitiu sair do Brasil pela primeira vez. Além do mais, conheci Marcel Boone, que é meu professor atualmente em Basiléia. Com certeza, Canto em Trancoso foi um divisor de águas em minha vida. Me abriu muitas portas, serei eternamente grato.”
Experiência com o Mozarteum:
“O Mozarteum tem um papel importante não só para mim mas para a cultura de nosso país. Canto em Trancoso foi importantíssimo para mim, não só pela conquista da bolsa para estudar na Alemanha, como também pela oportunidade de conhecer o trabalho do maestro Rolf Beck, respeitado internacionalmente, além da chance de fazer aulas com maravilhosos professores. Tudo isso abriu meus horizontes e me fez olhar muito mais seriamente para a profissão de cantor, fazendo com que eu me apaixonasse ainda mais por essa arte que é a música erudita.”
Da zona leste paulistana à Europa:
“Nasci e me criei na zona leste de São Paulo, pelos melhores pais do mundo – seu Zorandir Ramos da Silva e senhora Marina Costa da Silva. Apoio em casa nunca faltou. Claro que o mercado da música sempre foi meio nebuloso para meus pais. Mas tinham a preocupação sobre como eu iria me sustentar no futuro, se a música me traria algum retorno. Mas com o tempo as coisas foram acontecendo, fui conquistando meu espacinho e cada vez mais eles foram depositando as fichas em mim. Hoje meu pai cuida mais da minha voz do que eu. Sempre ouço: ‘não tome nada gelado, sua voz é seu instrumento de trabalho. Ou ‘não exagere porque amanhã você vai cantar’. São formas deles me apoiarem. Nunca tivemos muito, sempre fomos humildes, tudo sempre foi conquistado com suor. Minha mãe sempre diz: ‘quando se planta coisas boas se colhe coisas boas’. Hoje eu olho para minha caminhada até aqui e consigo dizer que minha mãe tem toda razão. Mesmo sendo de uma família sem condições de pagar meus estudos fora do país, as oportunidades e pessoas certas apareceram, contribuindo para minha evolução. Obrigado por acreditarem em mim!”