Sergey Girshenko, spalla da Orquestra Sinfônica Estatal Russa. Foto: Marcos Hermes

 

A experiência lúdica de conhecer a música clássica transformou-se em um grande privilégio na matinê para crianças realizada pela Orquestra Sinfônica Estatal Russa “Evgeny Svetlanov”, sob regência do maestro Terje Mikkelsen, no Auditório Ibirapuera. Embora destinado à garotada, o programa seduziu pais, filhos, avós – sem distinção de idade.

A descontração do violista e professor brasileiro Marcelo Jaffé, que participou do espetáculo como mestre de cerimônias, contribuiu para o clima festivo do espetáculo. Interagindo com a plateia, ele apresentou músicos, instrumentos, as obras do programa.

Jaffé também fez a narração de Pedro e o Lobo, a famosa composição de Prokofiev que conta uma história infantil através da música, com personagens representados pelos instrumentos musicais (cordas para Pedro; trompas para o lobo; fagote como o avô; pato: oboé; gato: clarinete; flauta: pássaro; madeiras: caçadores).

Ver e ouvir Pedro e o Lobo com os legítimos representantes da tradição musical russa é oportunidade para gravar na memória. Desde sua estreia em 1936, quando o próprio autor, Prokofiev, regeu a obra no Conservatório de Moscou, Pedro e o Lobo tornou-se uma das obras mais populares do repertório clássico. Ganhou inúmeras versões pelo mundo afora, colecionando narradores famosos – desde astros do rock, como Alice Cooper e David Bowie, atores como Sean Connery e Antonio Banderas, até o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Com a Orquestra Sinfônica Estatal Russa, uma obra como Pedro e o Lobo ressurge com a carga cultural de seu país de origem. Reunindo os melhores músicos da Rússia, país cuja educação musical é uma referência, esta orquestra formada há mais de 80 anos por intermédio de duas sumidades – os maestros Alexander Gauk e Erich Kleiber – demonstra o poder de sua herança artística nos mais variados repertórios.

Além de Pedro e o Lobo, o programa da matinê para crianças incluiu excertos de Peer Gynt, de Grieg, as Aberturas de Guilherme Tell, de Rossini, e de Ruslan e Ludmila, de Glinka.

Especialmente na Abertura de Guilherme Tell, a Sinfônica Estatal Russa tocou com perfeição estonteante o ritmo de cavalgada do final da obra, mostrando por que é venerada pela homogeneidade sonora que possui.

Ao final do concerto, para deleite da plateia, o spalla da Orquestra – Sergey Girshenko – desceu do palco e, caminhando nas escadarias do Auditório, em meio ao público, tocou o belíssimo Romance da Suíte Gadfly, que Shostakovich compôs em 1955 para servir de trilha sonora a um filme do diretor russo Aleksandr Fajntsimmer.

Além de uma privilegiada iniciação musical para as crianças, a matinê realizada pela Orquestra Sinfônica Estatal Russa também deliciou todos que compareceram ao Auditório Ibirapuera.