Público jovem revela o potencial da música clássica no Brasil

Público jovem revela o potencial da música clássica no Brasil

Os sorteados, da esquerda para a direita: Graziela Fortunato Rodrigues (à direita), Renan Talarico Mattar, Guilherme Carvalho Santana, Natália Brito e Paulo Simplício

Histórias de vida diferentes, mas um mesmo interesse: a música. Nas plateias dos concertos promovidos pelo Mozarteum, um novo público mostra o potencial da música clássica no Brasil.

Nos recentes espetáculos da Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul na Sala São Paulo, que tocou sob regência do maestro austro-croata Milan Turkovic e teve o aclamado violinista russo Vadim Repin como solista, alguns jovens espectadores ganharam ingressos sorteados pelo Mozarteum. Por coincidência, a maioria é estudante de música. Como espectadores ou músicos, demonstram o quanto é importante desfrutar das apresentações ao vivo e do contato com importantes expressões musicais.

A seguir, a história de cada um.

Natália Brito:
Paulistana do bairro de Vila Maria, situado na zona norte de São Paulo, Natália Brito tem 26 anos. Seu contato com a música se deu na igreja que frequentava. Depois, ingressou no Projeto Guri, programa sociocultural mantido pelo governo do Estado, onde começou a aprender violino. Acabou se formando na Escola de Música Tom Jobim (EMESP). Hoje é bacharel pela Faculdade Cantareira e faz parte da Orquestra Experimental de Repertório. Segundo Natália, a música foi acontecendo em sua vida. “Oportunidades foram aparecendo e me deram este rumo que tanto gosto. Acho super importante uma entidade como o Mozarteum trazer para o Brasil violinistas e outros músicos renomados, que só vemos pela internet. Ao vivo é uma sensação completamente diferente. Também acho importante as orquestras estrangeiras conhecerem nosso país e nossos músicos”.

Renan Talarico Mattar:
Nasceu, se criou e mora até hoje na cidade paulista de Embu das Artes. Tem 19 anos, nunca tocou um instrumento musical, mas adora música. “Me considero um entusiasta”, diz. Na verdade, é um espectador apaixonado, cujo contato com os clássicos começou na infância. Renan conta que seus avós tinham um disco de vinil do Concerto nº 3 de Beethoven, tocado pela Orquestra Filarmônica de Berlim. “Escutei uma vez e não parei mais”, ele lembra.

Quando fala sobre o concerto que assistiu na Sala São Paulo, Renan revela-se um espectador sensível, que possui grande interesse pela música. “A escolha do repertório apresentado pela Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul e pelo violinista Vadim Repin foi muito feliz. Introduziu o público brasileiro à música de concerto turca de maneira muito eficiente, através da Suíte Telli Turna, de Kodalli”.

O Concerto para Violino e Orquestra nº 1, de Max Bruch, magistralmente tocado por Vadim Repin também foi muito apreciado por Renan. “Não é à toa que, junto com os concertos de Beethoven, Brahms e Mendelssohn, esta obra para violino de Bruch seja considerada um dos quatro grandes concertos alemães. É cheio de linhas melódicas graciosas, que exigem muita técnica, o que foi muito bem demonstrado por Vadim Repin”.

Sobre a Sinfonia nº 8 em Sol Maior de Antonín Dvorák, que integrou o programa, Renan observa: “Encerrar a noite com a Oitava de Dvorák, um ponto alto do romantismo tcheco, confirmou o que já havia percebido durante a apresentação: uma belíssima interação entre todos os naipes da orquestra, com seu regente muito carismático e conhecedor da obra, fazendo com que singularidades escondidas na sinfonia fossem apresentadas ora com a delicadeza de uma orquestra de câmara, ora com a força de um grande conjunto sinfônico”.

Atento a tudo o que o concerto podia oferecer, Renan também prestou atenção ao violino utilizado por Vadim Repin: um Stradivarius “Rode” de 1733. “Apreciar tal instrumento em todo seu potencial é quase como escutar o som da própria história. Foi uma oportunidade única”.

Para Renan, o concerto ficará em sua memória. “Deve-se considerar com muito carinho o trabalho que o Mozarteum realiza, de nos apresentar tais joias da cultura mundial. Eu e com certeza muitos dos que estiveram neste concerto, procuraram saber mais sobre a música turca, seus intérpretes, sobre este grande conjunto musical e seu regente”.

Guilherme Carvalho Santana
Nascido em Piracicaba, interior de São Paulo, e atualmente morando no município paulista de Guarulhos, Guilherme Carvalho Santana tem 23 anos. É violinista recém-formado pela Faculdade Cantareira. Tinha 12 anos quando começou a se envolver com música, na igreja que frequentava. “Estou me preparando para realizar mestrado nos Estados Unidos. Já estou no processo de aplicação de algumas universidades norte-americanas e consultando as bolsas de estudos por elas concedidas. Minha maior motivação em estudar e me aperfeiçoar em violino no exterior é para poder, um dia, voltar para o Brasil e transmitir todo conhecimento adquirido para estudantes. Também quero me tornar solista”.

Sobre a oportunidade de assistir ao concerto da Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul, Guilherme afirma: “foi um prazer, me senti honrado”.

“A orquestra é muito boa, tem uma sonoridade doce e suave. Me chamou atenção ter tocado uma peça de um compositor turco. Acho importante divulgar os compositores do próprio país. Já o maestro Milan Turkovic, com seu domínio e interação incrível com os músicos, fez com que a orquestra respondesse a todas as suas intenções e frases musicais. E sobre Vadim Repin: chamá-lo de excelente violinista seria pouco. Prefiro defini-lo como artista que, com seu tom doce, explosivo e virtuoso, transformou o concerto de Max Bruch em algo transcendental. Seu domínio e musicalidade revelaram sutilezas deste concerto jamais ouvidas! Sem contar que estou preparando o Concerto para Violino de Max Bruch para minhas audições de mestrado e sem dúvida me acrescentou muito ouvi-lo na interpretação de Vadim Repin”.

Para Guilherme, o acesso a concertos como este, promovidos pelo Mozarteum, são oportunidades fundamentais e “indescritíveis”. “Graças ao Mozarteum e sua preocupação em trazer sempre o melhor para o Brasil, podemos nos deslumbrar com espetáculos de tão alto nível como este. Como espectador, me senti muito feliz e honrado”.

Paulo Simplício
Aos 21 anos, Paulo Simplício é estudante de química na Universidade Federal do ABC. Morador de São Bernando do Campo, ele atualmente é um autodidata: estuda violino sozinho, a partir dos conhecimentos musicais que adquiriu na adolescência, quando descobriu sua paixão pela música. Na época, tocava na igreja e, desde então, sonha em ser violinista profissional. “Se tiver a oportunidade de estudar com um professor e tocar em uma orquestra, pretendo trocar de carreira e ser músico profissional”, diz.

Assistir às apresentações de Vadim Repin com a Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul foi uma experiência e tanto para Paulo. “O Concerto para Violino de Max Bruch é um de meus favoritos e, tocado por Vadim Repin, me serviu inclusive como aprendizado. Os aspectos que mais me chamaram atenção foram as técnicas do vibrato e do arco, além da dinâmica musical que ele imprime à música. Um evento como esse, que nos aproxima de grandes orquestras e solistas, é de suma importância. Agradeço ao Mozarteum pela oportunidade. Para mim, não foi apenas um concerto, mas uma verdadeira aula.”

Graziela Fortunato Rodrigues
Atualmente, ela mora em São Paulo. Mas foi na cidade paulista de Porto Feliz, onde nasceu, que Graziela Fortunato Rodrigues começou a se interessar por música e tocar violino. Seus grandes incentivadores foram sua mãe, professora de piano, e o pai, que adorava música. Ambos decidiram que os quatro filhos teriam contato com a música através de algum instrumento.

Na época, uma das mais importantes professoras de violino do Brasil – Maria Vischnia – morava em uma fazenda em Porto Feliz. “Minha mãe disse que quando nasci, a Maria Vischnia falou que eu seria a filha que estudaria violino. E foi assim que depois de oito anos ela tornou-se minha professora”, diz Graziela.

Mais tarde, Graziela chegou a estudar engenharia, mas permaneceu tocando e estudando violino. Integrou a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e a Jazz Sinfônica.

Para Graziela, a chance de estar no concerto da Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul serve também como inspiração. “Ouvir esta orquestra vibrante, de som presente e intenso, me faz continuar apaixonada pelo que chamo de ‘fazer música’.”

Em Vadim Repin, ela notou o total domínio do violinista e o constante diálogo musical que ele manteve com a Orquestra de Istambul durante o concerto. “Ele produz um som muito brilhante e desenvolve belas frases musicais”.

Tal programação é um presente para o espectador, segundo Graziela. “É enriquecedor para a cidade de São Paulo poder usufruir de programas tão especiais e envolventes quanto os que o Mozarteum oferece. É um privilégio estar nestes concertos.”

Na foto, no topo desta página, os sorteados, da esquerda para a direita: Graziela Fortunato Rodrigues (à direita), Renan Talarico Mattar, Guilherme Carvalho Santana, Natália Brito e Paulo Simplício