Cantor, compositor, violonista
Para Toquinho, o violão passou a ser o prolongamento do próprio corpo. A cada dia dedica-se mais, como se o instrumento fosse um bebê recém-nascido, exigindo sempre cuidados aprimorados; e o instrumentista, um pai extremoso, ambos se completando, permitindo que a vida os confunda em madeira e pele, cordas e coração. Do bojo de seu violão, ele extrai o néctar capaz de garantir o lema de seus dias: “Só tenho tempo para ser feliz”.
Tudo começou no ano de 1959, no limiar da Bossa Nova. A maneira transformadora de João Gilberto interpretar Chega de saudade, com sua inusitada batida de violão, estimulou Toquinho a aprender a tocar o instrumento. Aos 14 anos já tinha aulas com seu principal mestre, Paulinho Nogueira. Então, com Edgard Gianullo, enriqueceu conhecimentos harmônicos e aprimorou-os com o amigo Oscar Castro Neves. O estilo de Baden Powell tornou-se irresistível ao então iniciante Toquinho que, a fim de ampliar a técnica , buscou em Isaias Sávio a intimidade necessária com o violão clássico. Já compositor, fez um curso de orquestração com Léo Peracchi.
Iniciou sua carreira profissional na década de 1960 ao lado de grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Taiguara, Chico Buarque, Elis Regina, Zimbo Trio, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Paulinho da Viola. A grande amizade com Chico Buarque propiciou-lhe a primeira parceria musical, Lua Cheia, primeira composição de sua carreira. Também com Chico, viveu sua primeira experiência fora do Brasil, em 1969, quando permaneceu ao lado dele, na Itália, durante sete meses. Seus primeiros sucessos surgiram em parceria com Jorge BenJor, na canção Que maravilha, e com Paulo Vanzolini, na canção Boca da Noite, essa com grande destaque no terceiro Festival Internacional da Canção, realizado no Rio de Janeiro, em 1968.
Uma fase importante de sua trajetória musical deu-se com Vinicius de Moraes, com quem começou a trabalhar em 1970 no memorável show na Boate La Fusa, de Buenos Aires, acompanhados pela cantora Maria Creuza. A partir de então, Toquinho iniciava com Vinicius uma parceria que extrapolou a relação profissional e se consolidou numa fraternal amizade robustecida ao longo de dez anos por uma incrível criatividade, tornando-se o parceiro mais produtivo do grande poeta em mais de cem canções. Gravaram cerca de 25 discos e realizaram mais de mil shows pelo Brasil e Exterior.
Além de Vinicius de Moraes, outros parceiros valorizaram suas canções ao longo de mais de 50 anos de carreira: Jorge Benjor, Gianfrancesco Guarnieri, Carlinhos Vergueiro, Mutinho, Elifas Andreato, Paulo Cesar Pinheiro, Francis Hime, Paulinho Nogueira, Cacaso, Paulinho da Viola, Eduardo Gudin, Antonio Skármeta, Sadao Watanabe, entre outros – ajudando-o a totalizar, entre aquelas de sua própria autoria, música e letra, uma lista de aproximadamente 400 canções registradas em mais de 86 discos e apresentadas para seu público em, até hoje, cerca de 10 mil shows pelo mundo afora.
Depois da morte de Vinicius, em 1980, Toquinho seguiu sua carreira como instrumentista, compositor e intérprete internacional com sucessivas gravações e apresentações na Europa, principalmente na Itália. Tendo como parceiros os italianos Maurizio Fabrizio e Guido Morra, criaram cerca de 25 canções registradas em quatro discos, destacando-se entre elas, o retumbante sucesso de Acquarello, propiciando a Toquinho o orgulho de ser o primeiro artista brasileiro a receber um Disco de Ouro na Itália. Com versão para a língua portuguesa feita por ele, essa canção, Aquarela, proporcionou-lhe a confirmação como compositor de renome internacional. A partir de 1982, Toquinho tem empreendido, na Itália, até hoje, sucessivas temporadas de shows em diferentes cidades de norte a sul do país, ratificando, a cada ano, sua incrível popularidade, plantada desde 1976, ainda junto com Vinicius de Moraes, quando gravaram com Ornella Vanoni, em Roma, um dos discos de maior destaque da dupla Toquinho/Vinicius: La Voglia, La Pazzia, L’Incoscienza, L’allegria. O LP não só se tornou um dos mais importantes do ano como, até hoje, jamais saiu de catálogo. Em 1978, foi também na Itália, em Firenze, desta feita na companhia de Tom Jobim e Miúcha, que Toquinho e Vinicius encerraram a temporada de um show que permaneceu quase um ano em cartaz no Canecão, no Rio de Janeiro, tendo sido apresentado ainda em Paris, no Olympia, e em Londres, no Palladium.
Toquinho também tem se apresentado na Espanha, em constantes temporadas nos últimos anos. Mais recentemente, em 2015, além de shows pela Itália, esteve na França em três espetáculos realizados em Biarritz, Paris e Fontainebleau ao lado da grande cellista Ophélie Gaillard e seu grupo, sob comando do maestro Gabriel Sivak, tendo gravado na ocasião o CD Alvorada, título da turnê.
Por outro lado, já se tornaram rotineiras as apresentações anuais de Toquinho pela América do Sul. São frequentes seus shows no Equador, Colômbia, Uruguai, Argentina e Chile, por várias ocasiões, realizando concertos em vários formatos, muitos deles ao lado de Maria Creuza, com quem tem mantido uma prodigiosa parceria de palco devido às comemorações dos 46 anos do histórico show na Boate La Fusa em 1970, com novo retorno a Buenos Aires, desta vez com a participação da violonista clássica paraguaia Berta Rojas, no mês de setembro. Numa dessas passagens pelo Chile, tornou-se amigo de Antonio Skármeta, grande escritor e poeta chileno, que se tornou parceiro de Toquinho em 13 canções.
Em 2009, Toquinho realizou um de seus sonhos: cantar com Andrea Bocelli. A convite do tenor italiano, no dia 21 de abril cantaram juntos no Parque da Independência, em São Paulo, para um público de mais de 25 mil pessoas. Meses depois, Bocelli convidou Toquinho para a apresentação anual que faz em sua cidade natal, Lajatico, próximo a Pisa, no Teatro del Silenzio. Toquinho foi o único artista popular no concerto de 2009 ao lado dos demais convidados: o tenor Plácido Domingo, o flautista Andrea Griminelli e as cantoras líricas Katehrine Jenkins e Sabina Cvilak.
Para uma plateia de 10 mil pessoas, Andréa Bocelli revelou que na juventude se emocionava com a música de Toquinho.
Toquinho não recusa desafios.
Em março de 2010 reestreou no Brasil o musical Cats, desta vez apresentado ao público brasileiro, com versão para o português feita por Toquinho, dando ao musical um clima brasileiro. Em sua adaptação, Toquinho conseguiu inserir na Londres de 1981 um pouco da cidade de São Paulo, sem se desvirtuar da montagem original.
Ao longo dos últimos anos comemorando 50 anos de carreira, Toquinho tem feito apresentações constantes por várias cidades brasileiras em shows de diferentes formatos, dividindo o palco com João Bosco, Ivan Lins, MPB-4, Roberto Menescal, Carlos Lyra, Tiê, Verônica Ferriani, Wanda Sá, Quarteto em Cy, Joyce Moreno, Anna Setton e Camilla Faustino. Ultimamente vem retomando parcerias com Paulo Cesar Pinheiro e Jorge Benjor na criação de novas canções.
Uma das pérolas da sensibilidade de Toquinho é a parte de sua obra que abrange o mundo infantil. São cerca de 40 canções que encantam as crianças porque Toquinho sabe brincar com elas de uma forma inteligente, mantendo um humor lúdico na junção das letras com as melodias. Essas canções estão registradas em quatro discos: Arca de Noé e Arca de Noé 2, em parceria com Vinicius de Moraes, caracterizando os mais diversos bichinhos; Casa de Brinquedos, cujo parceiro é Mutinho, que mostra os brinquedos falando com as crianças, transformado em DVD ganhador de Disco de Platina em 2014, e Canção de Todas as Crianças, com Elifas Andreato, cuja fonte de inspiração é a Declaração Universal dos Direitos da Criança que, em síntese, são dez princípios aprovados pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1959. Cada Direito virou uma canção. A sintonia entre melodia e letra assegura a essas canções uma autêntica representação plástica. Em novembro de 2003, o clipe animado Aquarela conquistou o Liv Ullmann Peace Prize, prêmio concedido pelo júri do Chicago International Children’s Film Festival, o maior e mais antigo festival de filmes infantis do mundo, cujo critério é conceder o primeiro lugar ao filme que traduz de forma mais sensível o desejo de paz e harmonia entre as crianças. Além desse prêmio, o clipe Aquarela alcançou o segundo lugar na categoria animação infantil do Anima Mundi 2003. Por sua vez A Casa foi escolhida a melhor trilha sonora do Anima Mundi 2004, e O Pato obteve o segundo lugar na categoria animação brasileira no mesmo festival. Estes vídeos fazem parte do DVD Toquinho no mundo da criança, lançado pela Circuito Musical e Delta Editora. A Canção dos Direitos da Criança transformou-se em espetáculo musical, com várias montagens, tendo sido a última produção em 2016, no Teatro Frei Caneca, destaque do Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem, em várias categorias.
Toquinho leva sua música para bem longe de sua terra, ao mesmo tempo que conserva aquela brasilidade de quem ama andar pelos mais distantes locais, seja a cidade grande ou pequena, próxima ou distante. Essa abrangente atividade requer uma profunda percepção artística, profissional e humana na lida com parceiros, produtores e diretores de shows; músicos, técnicos de estúdios e de palcos, cantoras, conjuntos vocais e atendimento de fãs. Um artista tem de estar constantemente pronto para a criatividade, matéria-prima do talento na continuidade de sua carreira.
Exclusivo da Circuito Musical há 25 anos está sempre animado com as viagens e revigorado com as parcerias.