Piano
Ao longo de 8 anos, durante os quais gravou três álbuns, acompanhou diversos projetos de estúdio e fez inúmeras apresentações mundo afora, o pianista e compositor Gerald Clayton se firmou como personagem de destaque de toda uma geração emergente de artistas de jazz, fluentes nos vários estilos que compõem a enciclopédia jazzística de hoje. Aclamado pelo jornal The New York Times por sua “presença poderosa, convincente”, Clayton está no caminho certo para deixar gravada sua marca definitiva na longa e rica tradição do jazz. Nunca isso ficou tão claro como em Life Forum, último registro pelo selo Concord Jazz e seu mais ambicioso projeto até então.
Nascido na Holanda em 1984 e criado no sul da Califórnia, Clayton teve as primeiras aulas de piano antes de completar 7 anos de idade, com total apoio e incentivo do pai, o célebre baixista de jazz, compositor e líder de bandas, John Clayton. A música desde sempre teve papel preponderante em sua vida e muito cedo se transformou em compromisso:
“Eu estava na 3ª série, quando toquei uma peça de boogie-woogie que meu pai havia escrito para mim, num show de talentos”, recorda. “Era a primeira vez que eu me apresentava para um público onde pude sentir que as pessoas realmente estavam emocionadas por algo que eu tinha acabado de tocar. E me lembro de pensar: ‘É, é isso que vou fazer pro resto da vida’”.
Clayton estudou no Colégio de Artes de Los Angeles e depois na Thornton School of Music da Universidade do Sul da Califórnia (USC). Na metade do terceiro ano na USC, ele se mudou temporariamente para Nova York, para estudar na Manhattan School of Music. “Eu sabia que acabaria indo morar em Nova York”, conta, “então achei que seria bom sentir a cidade durante um ano, ainda como estudante”. Retornou a Los Angeles por um ano e meio – para concluir a faculdade – e então foi para Nova York em caráter definitivo.
Em 2006, Gerald ficou em 2º lugar no prestigioso Concurso de Piano do Instituto de Jazz Thelonius Monk. Na mesma época, foi apresentado ao trompetista Roy Hargrove, quando ambos eram artistas convidados de uma apresentação da Orquestra Henry Mancini. “Estávamos nos bastidores, durante um dos ensaios, e começamos a tocar uns duetos”, ele recorda. “Depois disso nos encontramos algumas vezes em Nova York, e ele falou: ‘Legal que você está em Nova York agora. Vou te ligar’. Foi assim que tudo começou”.
A parceria resultou em três anos de extensas turnês com Hargrove entre 2006 e 2009, além de participações nas gravações de Earfood (2008) e Emergence (2009). Gerald também teve participação em gravações de vários outros artistas, como Diana Krall, Ambrose Akinmusire, Kendrick Scott, Melissa Morgan, Terell Stafford& Dick Oatts e, mais recentemente, Michael Rodriguez, Dayna Stephens, Terri Lyne Carrington, além do Clayton Brothers Quintet, liderado por seu pai e seu tio, o saxofonista Jeff Clayton, com os quais Gerald segue tocando regularmente.
Em 2009, lançou TwoShade, seu álbum de estreia como líder, junto com o baixista Joe Sanders e o baterista Justin Brown, que também participaram das duas gravações seguintes. TwoShade lhe rendeu a indicação ao Grammy 2010 na categoria “Melhor Solo de Jazz Improvisado”, pela faixa “All of You”, de Cole Porter.
Em 2011, Gerald foi mais uma vez indicado ao Grammy, dessa vez na categoria “Melhor Composição de Jazz Instrumental”, por “BattleCircle”, do álbum The New Song and Dance, com os Clayton Brothers.
No mesmo ano, lançou seu segundo álbum, Bond: The Paris Sessions. Apesar da expectativa ter sido grande, na esteira do sucesso do álbum de estreia, Clayton lembra que o trabalho foi surgindo de maneira orgânica e pouco estressante. “A gente ouve as pessoas falarem da maldição do segundo CD, mas, gravar esse CD – e todo o processo que levou a ele – foi um processo muito natural para nós. Vínhamos viajando muito em turnês, passando muito tempo juntos, então, entrar no estúdio e capturar essa energia foi totalmente natural”. Bond foi indicado ao Grammy em 2012, a terceira indicação de Gerald, na categoria “Melhor Álbum de Jazz Instrumental”.
Life Forum, lançado em abril de 2013, “talvez seja o álbum mais ambicioso”, afirma Clayton. “Conceber a música para um grupo de oito músicos foi uma experiência nova para mim, e exigiu um preparo maior do que aquele ao qual estava habituado. Com inclusão de letras em três faixas, além de um certo trabalho de pós-produção, o projeto significou um distanciamento dos dois anteriores. Eu estou compondo mais do que nunca, e o trabalho com Ben Wendel, que produziu o CD, me ajudou muito. Eu realmente admiro a maneira como ele toca e compõe. Nós sentamos juntos antes das gravações para conversar a respeito da música e mapear o que eu precisava fazer para gravar. Nesse sentido, esse trabalho exigiu mais do que os anteriores”.
“O que virá após Life Forum, ninguém sabe”, diz Clayton, que não quer ser definido por nenhuma tradição musical: “Eu prefiro ignorar as caixas, as diferenças de gênero”, declara. “Eu foco na criação de expressões musicais verdadeiras e na parceria com pessoas cujas ideias estejam em ressonância com as minhas”.