Vadim Repin

Vadim Repin: um gênio do violino em busca constante pela perfeição

Por Ana Francisca Ponzio

Nascido na Sibéria, Vadim Repin é um dos mais aclamados violinistas da atualidade. Prodígio desde a infância, realizou seu primeiro concerto aos nove anos de idade. Aos 11, ganhou medalha de ouro no prestigiado Concurso Wienawski e imediatamente começou a se apresentar em Moscou e São Petersburgo. Aos 14 estreou em Tóquio, Munique, Berlim, Helsinque e, um ano mais tarde, no Carnegie Hall de Nova York. Hoje, aos 45 anos, está na plenitude artística.

Unindo com total equilíbrio a técnica perfeita à emotividade da alma russa, ele se apresentará na Sala São Paulo dias 20 e 21 de junho com a Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul, sob regência do maestro austro-croata Milan Turkovic.

Nesta entrevista exclusiva, Vadim Repin fala sobre suas expectativas com as apresentações em São Paulo, sobre os concertos de Jean Sibelius e Max Bruch que vai interpretar, sobre o momento atual de sua carreira.

Casado com uma importante bailarina do Ballet Bolshoi, Svetlana Zakharova, Vadim Repin mora atualmente em Viena (Áustria) e parte do ano em Novosibirsk, sua cidade natal, onde dirige o Trans-Siberian Arts Festival, que ele fundou em 2014.

Sobre educação musical, ele é enfático: defende que o aprendizado de música deve começar na infância. “Toda criança deve ter o direito de experimentar música. É tão natural e essencial quanto aprender a ler e escrever e está provado que aumenta o Quociente de Inteligência”, afirma.


Nas apresentações em São Paulo você tocará concertos para violino de Jean Sibelius e Max Bruch. Essencialmente, como você define essas composições?

Vadim Repin – Tenho tocado estes dois concertos desde meus primeiros anos de carreira. O concerto de Sibelius possui uma atmosfera maravilhosa, que transmite a beleza absoluta do país do compositor, a Finlândia. Foi o único concerto escrito por Sibelius e eu diria que é uma sinfonia para violino e orquestra.

O primeiro concerto de Max Bruch – ele escreveu três, mas este é o mais popular – foi escrito cerca de 40 anos antes e é gloriosamente romântico.

 

Quais suas expectativas com as apresentações em São Paulo, junto da Orquestra Sinfônica Estatal de Istambul?

Vadim Repin – Estou ansioso por este meu retorno ao Brasil, em companhia dos excelentes músicos de Istambul e desta orquestra. Tenho realizados muitos concertos em Istambul nos últimos anos. É extraordinário e continua inabalável o compromisso da Turquia com as tradições da música clássica europeia, desde os tempos de Atatürk [Mustafa Kemal Atatürk, fundador da República Turca em 1923]. Porém, esta tradição musical possui um refinado tempero oriental.

 

O violinista e maestro norte-americano Yehudi Menuhin disse sobre você: “É o mais perfeito violinista que já ouvi”. O que é perfeição para você?

Vadim Repin – Acho que artistas nunca devem estar satisfeitos. Devem sempre continuar em busca da perfeição – senão, de pouco serviria o exercício da profissão.

 

Qual seu grande desafio quando está no palco, durante uma apresentação?

Vadim Repin – Meu maior desafio é fazer justiça ao compositor, interpretar não somente as notas da partitura mas também as emoções que estão por trás delas. É como encontrar as cores de um quadro e tentar pintá-las para a plateia.

 

Podemos afirmar que a música é uma linguagem emocional?

Vadim Repin – Música é, de fato, uma linguagem de emoções e pode ser universalmente compreendida. O intérprete, por sua vez, é um servidor do compositor e deve tornar sua linguagem acessível para o ouvinte.

 

Há uma mística sobre a identidade, a alma russa. O que a origem russa representa para você como artista?

Vadim Repin – Sou russo em minha essência, que está relacionada às cores do lugar onde nasci, à minha visão de vida, de música, da natureza. Isto não me impede de admirar e amar outros lugares. Por exemplo, o Japão, que eu visito frequentemente e cuja cultura é uma fonte de fascinação inesgotável para mim, ou a Áustria, onde tenho uma casa e que permite me sentir realmente próximo da grande tradição da música europeia.

 

O que se destaca em seu repertório atualmente?

Vadim Repin – Nos últimos anos eu tenho encomendado novas composições para violino. Isto tem me provocado estímulos, desafios e novas reflexões sobre música. O compositor britânico James MacMillan escreveu um fantástico concerto de violino para mim, que eu tenho tocado em todo o mundo. Mais recentemente, Benjamin Yusupov e Lera Auerbach também escreveram trabalhos fascinantes e totalmente diferentes para mim. Na próxima temporada, eu estarei apresentando o Concerto Duplo para Dois Violinos, outra composição exclusiva, de Mark-Anthony Turnage.

 

Você já comparou a música clássica com a arquitetura. Por quê?

Vadim Repin – Porque a construção de uma grande sinfonia ou de um brilhante concerto exige o mesmo grau de talento, habilidade, imaginação, humanidade e percepção necessário a um arquiteto, para que ele possa criar um edifício espetacular.

 

Você já teve vários violinos preciosos. Atualmente você possui um Stradivari 1733 “Rode”, fabricado quase 300 anos atrás. O que um instrumento como este oferece de tão especial?

Vadim Repin – Os grandes instrumentos – fabricados por Stradivari e Guarneri – oferecem ao intérprete a possibilidade única de expressar uma enorme gama de cores e emoções. No momento, o “Rode” é o amor de minha vida porque ele preenche a minha imaginação artística.

 

Seu talento musical se revelou muito cedo. Já na infância você era considerado um prodígio. Como você descobriu a música e por que resolveu tocar violino? Sabe-se também que sua mãe sempre o incentivou. Qual o papel dela no seu desenvolvimento artístico?

Vadim Repin – Quando tinha três ou quatro anos de idade eu era muito ligado em brinquedos musicais – tambores, sinos, apitos, qualquer coisa que me permitisse produzir som. Quando completei cinco anos, minha mãe se convenceu de que eu era muito musical e decidiu que eu deveria ter aulas de música. Naquela época, meu instrumento favorito era o acordeão e então ela me levou para uma escola de música. Mas, a classe de acordeão estava cheia e sugeriram: “Por que não o violino? Não é tão popular e há muitas vagas para este curso”. Foi amor ao primeiro toque, assim que peguei um violino. Minha mãe sempre esteve muito presente desde que me iniciei na música, me encorajando e organizando minha vida em seus mínimos detalhes.

 

Qual a importância da música na educação de uma criança?

Vadim Repin – Toda criança deve ter o direito de experimentar música. É tão natural e essencial quanto aprender a ler e escrever e está provado que aumenta o QI (Quociente de Inteligência). A exposição à educação musical precoce ajuda a desenvolver áreas do cérebro envolvidas na linguagem e no raciocínio. Estudos mostram que, fisicamente, o treinamento musical desenvolve o lado esquerdo do cérebro, conhecido por sua relação com o processo de linguagem. Pesquisas sobre educação musical comprovam uma ligação causal entre música e inteligência espacial, além de muitos outros benefícios.

 

Em 2014 você fundou em sua cidade natal, Novosibirsk, o Trans-Siberian Arts Festival, do qual é diretor artístico. Qual a importância deste festival nesta região russa e o que ele significa para você?

Vadim Repin – Para mim, o Trans-Siberian Arts Festival foi um sonho que se tornou realidade. O sucesso deste festival, que se realizou pela quarta vez entre março e abril de 2017, tem provocado um impacto cultural em toda a região siberiana. Temos organizado concertos em muitas cidades, não somente em Novosibirsk, e as demandas estão crescendo cada vez mais.

 

Você é casado com uma bailarina importante – Svetlana Zakharova, do Ballet Bolshoi. Algumas vezes vocês têm se apresentado juntos. O que a dança revela para você?

Vadim Repin – A dança é uma expressão física maravilhosa de fazer música. Ou seja, a dança é música através do corpo.

 

Como você vê a música clássica hoje, com a comunicação virtual tão presente no dia a dia?

Vadim Repin – Acho que sempre haverá demanda por música ao vivo e formar novos públicos exige educação desde a infância.

 

O que marca sua carreira hoje?

Vadim Repin – Me dá muito prazer, atualmente, combinar minhas apresentações com a organização de meu festival, o Trans-Siberian Arts. É um desafio equilibrar orçamentos e encontrar a combinação certa de espetáculos, que possam atrair plateias.

 

Finalmente, uma pergunta essencial: o que a música significa para você?

Vadim Repin – Música é minha vida.